quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um breve relato sobre a improbabilidade da vida




Uma discussão recorrente na biologia é o quão improvável é a existência da vida neste planeta. Ou em qualquer outro planeta. Dizem que é obrigatoriamente necessária a existência de uma inteligência maior pra ter criado os primeiros seres porque eles não poderiam simplesmente surgir ao acaso a partir de moléculas não-vivas. Quero discorrer um pouco sobre isso com alguns exemplos.

Bom, primeiramente, não sei se todos conhecem Oparin, o biólogo que enunciou a mais aceita teoria sobre origem da vida. Ele enunciou de uma forma convincente e científica como a vida poderia ter surgido a partir de moléculas mais simples para moléculas mais complexas. O experimento dele foi baseado a partir de deduções de como era a atmosfera primitiva da Terra, baseado em observações de atmosferas dos nossos planetas vizinhos, e em eventos que aconteciam nos primórdios da formação do nosso planeta. Havia na nossa atmosfera metano, gás hidrogênio, amônia e vapor de água. Quando esses quatro elementos são submetidos aos raios ultravioletas do sol e a raios elétricos provenientes de tempestades, surge (até mesmo no laboratório) matéria orgânica. Essas moléculas de matéria orgânica então iriam se aglutinando, formando compostos orgânicos mais complexos, se concentrando em mares de matéria orgânica – chamado de caldo primordial – até que um dia surgiria a vida. Muita gente acha isso improvável demais pra acontecer, e à primeira vista é mesmo. Mas se analisado a fundo dado um tempo muito grande para que esse evento ocorra, ele se torna até muito viável, como uma conseqüência natural das leis da física e da química.

A estatística é uma boa ferramenta pra dizer o que é provável e o que não é provável de acontecer. Ela pode ainda dizer se as chances de acontecer um evento são tão remotas que beiram o impossível, mas acho que a gente se esquece do que a gente realmente observa no mundo real e acaba achando que a estatística é uma verdade absoluta. É como achar que se algo não pode ser encontrado no google quer dizer que tal coisa não existe.

Um exemplo é a formação de um átomo de carbono. Teoricamente, um único átomo de carbono é algo tão inviável de acontecer que se os físicos nunca vissem um, iriam achar absolutamente normal. No entanto o carbono é a base de toda a vida do planeta, todos os seres vivos possuem muitos mols desse átomo. Não é porque algo é improvável de acontecer que esse algo não aconteça. O carbono só é produzido no interior de estrelas, em cometas e em atmosferas de planetas porque provavelmente nesses lugares, algo propicie a sua formação. A estatística não dita regras, só mostra a viabilidade de eventos ocorrerem.

Eu jogo na mega-sena de vez em quando. Sei o quão improvável é a chance de eu ganhar, mas é mais pela diversão do que pela expectativa de acertar os números, pelo menos no meu caso. A chance de se acertar as 6 dezenas do jogo é de 1 em 50.063.860. Teoricamente, se eu jogasse 50 milhões de vezes na mega sena com os mesmo números um dia eu iria ganhar, estatisticamente falando. Mas há ainda um outro aspecto nessa informação. Hoje os sorteios da mega-sena ocorrem duas vezes por semana, de quarta e de sábado. Algumas vezes o prêmio acumula, mas raramente acumula muito. Não acho absurdo pensar que, por mês, uma pessoa venha a ganhar na mega-sena. Se pensarmos que existem 8 sorteios no mês e uma pessoa ganha a cada mês, logo a cada 8 sorteios, uma pessoa ganha. Uma estatística surpreendente, 1/8 de chance de alguém ganhar! Mas então isso quer dizer que em um mês, jogando toda vez com os mesmos números eu vou ganhar com certeza? Na verdade não. A sua estatística de ganhar continua de 1 em 50 milhões (infelizmente). Mas então por que esse 1/8? Simplesmente porque existem muitas milhões de pessoas no Brasil que jogam, sendo que uma delas pode ganhar, mas não necessariamente vai ser você. A chance de alguém ganhar é incrivelmente maior, 1/8 nesse exemplo, do que uma pessoa em específico, que seria da ordem de 1 em 50 milhões.

Pois bem, no caldo primordial existiam milhares, milhões, mols e mols de moléculas orgânicas pululantes naquele imenso mar inerte e sem vida. Essas moléculas obviamente não procuravam se aglutinar para formar algo vivo. Elas se aglutinavam naturalmente, assim como quando você joga óleo de cozinha numa panela com água quando vai cozinhar, pois dado um tempo, pequeno até, as moléculas de óleo tendem a se juntar sem que nada as induza a isso. Essa aglutinação é natural, e ocorre muito entre proteínas. Como no caso do exemplo da mega-sena, a chance de uma única molécula específica, conseguir se juntar de um jeito específico com outras, a fim de formar vida, é irrisória. No entanto, existiam muitos milhões de bilhões de moléculas que poderiam estar “tentando” realizar tal feito. Nós vimos que as chances de alguém ganhar na mega-sena são bem maiores do que uma pessoa em específico ganhar (1:8 contra 1:50 milhões), portanto as chances de surgimento da vida também seria incrivelmente maior, dado o grande número de moléculas interagindo. Aliado a isso um tempinho de alguns 2 bilhões de anos, acho bem plausível a origem de vida a partir de algo não vivo. E o mais importante, isso só precisaria ter acontecido uma única vez.

Claro que vem aquela pergunta: Mas então vida poderia estar sendo formada a partir de matéria inanimada nesse exato instante em algum lugar do nosso planeta? Bom, acabei de mostrar todo o empecilho pra surgir vida. Não é algo muito fácil, mas também não é algo impossível (mesmo porque ela existe). Precisaria existir um ambiente muito favorável pra que isso acontecesse e algum tempo também. Não acho que exista tal ambiente favorável hoje em dia. Provavelmente essa nova forma de vida que viesse a surgir teria ainda que competir por recursos com as formas de vida já existentes no planeta há 2,5 bilhões de anos. Acho que ela perderia essa competição. No entanto, independentemente de pensar se esse novo tipo de vida vingaria ou não, não acho impossível que uma nova forma de vida surja nos dias atuais (e logo desapareça por competição com outras), é apenas muito improvável.

Agora vou puxar a sardinha para nosso lado, como seres humanos típicos. Imaginemos nosso mundo hoje, sem nós humanos. Imagine que existam todos os animais atuais, com os mamíferos dominando o ambiente terrestre. Agora coloque no cenário os dinossauros. Depois de um tempo, qual grupo seria dominante no planeta? Quem assistiu Jurassic Park, que apesar de ficção tem uma parte científica bem embasada, percebe que os mamíferos seriam massacrados! Na época que esses grandes répteis dominavam o mundo, alguns mamíferos de pequeno porte co-existiam no ambiente, no entanto não existiam grandes mamíferos predadores porque estes teriam que competir com os dinossauros por um mesmo nicho ecológico*. Por muitos milhões de anos os mamíferos foram dominados pelos dinossauros. Não fosse pelo meteoro que caiu no México há 65 milhões de anos, essa história dificilmente teria mudado.

Qual a importância disso para nós? Simples. Se aquele meteoro não tivesse caído na Terra, os seres humanos, assim como primatas, felinos, elefantes, camelos e alces provavelmente nunca teriam existido! A probabilidade de um meteoro com aquelas dimensões cair no nosso planeta é cerca de 1 chance em 100 milhões de anos. Ora, não é uma chance grande, mas também não é tão pequena, visto que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos e a vida cerca de 2,5 bilhões. Cabem muitos meteoros daquele tamanho nesse período de tempo. O fato é que se não fosse o acaso daquele meteoro cair, não existiria vida inteligente no planeta (pelo menos não como conhecemos).

Isso tudo que foi dito traz algumas implicações. Era improvável ter aparecido vida inteligente na Terra, mas surgiu. O que impede que em outros lugares também possa existir? É estatisticamente inviável? Já vimos que estatística só nos diz se algo é improvável ou não de acontecer, mas não diz que algo é impossível. A vida é uma conseqüência natural das leis da física e da química, mas o caminho pelo qual a vida vai evoluir não é linear, e a existência do ser humano no planeta, no fim das contas, é pura sorte.



*nicho ecológico: Representa o conjunto de atividades que a espécie desempenha, incluindo relações alimentares, obtenção de abrigos e locais de reprodução, ou seja, como, onde e à custa de quem a espécie se alimenta, para quem serve de alimento, quando, como e onde busca abrigo, como e onde se reproduz. Numa comparação clássica, o habitat representa o "endereço" da espécie, e o nicho ecológico equivale à "profissão". (wikipedia)

6 Comments:

Anônimo said...

Qdo crescer, quero ser igual a vc!
=P

Anônimo said...

é isso aí ^^

Pensamento Verde said...

Desencana de estatistica, nao serve pra nada... probabilidade so serve pra dizer q no passado foi assim, mas ninguem tem ideia do q pode ser o futuro, ou seja, pra nada!!!

mas o texto, apesar da viagem (eu tive q tomar mto vinho pra ler e pensar sobre ele) ta mto bom... esse menino tem futuro...

Edwin said...

Que droga vc usou ??? heheh
To brincando o texto tá muito bom!
Abraço

Chapolim said...

Sou criacionista

Unknown said...

Oi!!!! Vc já leu os livros do Dan Brown??? Creio que vc se divertiria com o Anjos e Demonios e o Impacto Profundo! : )

Bjinhos