quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O sentido da vida

Tudo bem então, dando prosseguimento ao texto anterior, a presença dos seres humanos na Terra é pura sorte. A vida, por outro lado, não é, ela é uma decorrência natural das leis da química e da física dentro de certas condições específicas. Então aquelas velhas questões sobre “Qual o sentido da vida?”, “Para que estamos aqui?”, que as religiões insistem em dizer que a ciência não consegue responder, ganham outro caráter. Elas simplesmente não fazem sentido de serem perguntadas.

Voltemos aos primórdios da história da vida na Terra. Existia algo que poderia ser chamado de precursor da célula, um punhado de moléculas que possuíam a capacidade de se dividir e produzir cópias fiéis de si mesmas. Agora imaginem que essa protocélula (nome que eu dei pra esse ser precursor da vida) esteja nadando tranqüilamente quando resolve dividir. Resolve dividir? Acredito que esse indivíduo não resolveu dividir, mesmo porque não tinha motivo aparente para ele fazer isso (nem mesmo se tratava de um indivíduo). Ela não o fez para perpetuação do seu genoma, as bactérias vivem indefinidamente, não precisam se dividir como organismos que fazem reprodução sexuada. Ela simplesmente dividiu por nenhum motivo. Provavelmente a divisão ocorreu por uma necessidade daquela protocélula no sentido de se tornar mais estável, bioquimicamente falando. Percebem que não faz sentido fazer a famigerada pergunta “Qual o sentido da vida”? Ninguém disse que ela necessariamente precisa ter um sentido. Não precisa. Portanto a ciência não responde essa pergunta porque, em primeira instância, ela não tem nem porquê ser perguntada! A pergunta certa a se fazer seria: “A vida necessita de um sentido?” E a resposta seria um não bem enfático.

A segunda pergunta “Para que estamos aqui?” também é algo que não faz sentido, visto que a presença do ser humano no planeta é totalmente fortuita (ver texto anterior). Então não temos que estar aqui por algum motivo. Nossa idéia antropocêntrica de importância é que nos dá essa falsa impressão. É bem verdade que pro universo a sua presença, ou a minha, ou a de toda a humanidade não faz diferença nenhuma, mas para as pessoas ao meu redor, a minha existência faz muita diferença , e isso basta! Não precisamos de uma importância maior que essa, ser importante para as pessoas de que gostamos é completamente satisfatório. Pelo menos pra mim.

Entendo que para muitas pessoas essa idéia soe estranha e até assustadora. Tenho um amigo que dizia que se ele acreditar que não existe nenhum sentido na nossa existência, ele faria sempre o que quisesse, sem moral nem ética, poderia se matar, entre outros absurdos. Claro que ele teria que lidar com as conseqüências dos seus atos. Mas tem uma parte que eu acho que eu não entendi: Com qual raciocínio ele diz que não existir um sentido específico para nossas vidas faz com que tenhamos obrigatoriamente que nos tornar seres anárquicos e amorais?

Então, como viver bem com a idéia de que não há um sentido pra vida e que não há motivo para nós humanos estarmos aqui? É simples. Como não há um sentido específico, isso significa que temos liberdade incondicional sobre qual sentido nossa vida virá a ter. Claro que lidamos com as conseqüências dessa escolha, roubar tem uma conseqüência direta que seria punida de acordo com as leis da sociedade. No entanto, se nos dedicamos a ajudar, a organizar, a fazer o mundo ao seu redor funcionar de uma forma harmoniosa, isso trará conseqüências imediatas e de mesmo caráter! Eu sei que essas palavras que usei parecem as que são usadas em livros de auto-ajuda, e na verdade acho que são mesmo, mas a idéia não é fazer você se sentir melhor com o fato da vida não ter um sentido, é apenas de você aceitar que as coisas são assim e conseguir lidar com isso. Aceitação é o primeiro passo. Ou aceitamos que temos todo dia que trabalhar e tentamos tirar algum proveito, alguma diversão, ou reclamamos sobre isso todos os dias de nossas vidas. Se eu achar que meu sentido é compor músicas, pintar quadros, aplicar dinheiro na bolsa de valores, qualquer que seja ele, ele é válido! E se algum dia eu me cansar do sentido que eu escolhi, eu posso simplesmente escolher outro, pois cada um faz seu próprio sentido da vida. E essa é a beleza da vida, ser livre pra escolher!

Pra terminar esse texto de auto-ajuda para ateus, deixo duas frases que hoje se encontram no meu profile do orkut, que são muito coerentes porque se pensarmos em todos os espermatozóides do seu pai que tentaram fecundar o óvulo da sua mãe, de milhões e milhões, você foi o único que conseguiu vingar, dentre tantos indivíduos em potencial que morreram. Então simplesmente aproveite o que o acaso te deu.


"Nós vamos morrer, e isso nos torna afortunados. A maioria das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai nascer. As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar, mas que jamais verão a luz do dia, são mais numerosas que os grãos de areia da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos disso porque o conjunto das pessoas permitidas pelo nosso DNA excede em muito o conjunto de pessoas reais. Apesar dessas probabilidades assombrosas, somos eu e você, com toda a nossa banalidade, que aqui estamos..."¹

"Nós, uns poucos privilegiados que ganharam na loteria do nascimento, contrariando todas as probabilidades, como nos atrevemos a choramingar por causa do retorno inevitável àquele estado anterior, do qual a enorme maioria jamais nem saiu?"²

¹ – “Desvendando o arco íris”, Richard Dawkins
² – “Deus, um delírio”, Richard Dawkins

3 Comments:

Edwin said...

Minha religião é o Aleficismo... Quando que é a missa ?
....rs
Concordo com seu texto! Mas tem gente que preferia não ter nascido ou pelo menos eu queria que não tivessem nascido....hehehe
Abraço

Anônimo said...

Descobri o sentido da vida:




eh pra direita...

T.Almeida said...

Descobri o sentido da Vida...









É pra extrema esquerda!!!













PS: Ao autor, parabéns pelo texto!!!