quinta-feira, 6 de março de 2008

A justiça tarda... e por enquanto é só



Na figura se vê um punhado de jóias representando de um lado o clero católico e do outro um tecido estranho representando células tronco. Essa imagem se refere à lei que seria votada dia 05/03/08 e que foi adiada pelo Supremo Tribunal. Acho que agora fica claro por que a discussão religiosa por parte dos biólogos é importante e, ainda hoje, pertinente. A Veja dessa semana traz uma entrevista com a bióloga Mayana Zatz, diretora do Centro do Genoma Humano na USP, esclarecendo fatos como que os embriões que seriam utilizados para estudo, seriam aqueles não usados em clínicas de fertilização in vitro (bebê de proveta), ou seja, os que não seriam implantados no útero da provável mãe. Se esses embriões são vida, como os religiosos alegam ser, mantê-los em um tubo infringiria a lei de cárcere privado, e jogá-los fora seria assassinato! Jogar fora e matar todos os embriões pode, fazer estudos com eles (que resultará em morte) não. Esse tipo de incongruência, tão normal na igreja, é um problema que entrava estudos de uma tecnologia que poderia combater diabetes, Mal de Parkinson, Alzheimer, doenças degenerativas, entre outras. Quando os outros países tiverem desenvolvido a técnica (porque a sociedade é realmente laica), teremos que pagar royalties para eles, sendo uma fortuna de tratamento. Acho difícil que se alguém souber que existe uma cura pra doença degenerativa que sua mãe, sua esposa, seu filho tenha, e que não pode ter acesso porque é caro demais, irá aceitar de bom grado que é a vontade de Deus.

Abaixo, um trecho de um texto que achei na internet:

"Primeiro, a lei só liberou os estudos e as terapias do gênero com embriões descartados, por inviáveis, nas clínicas de reprodução assistida ou congelados há no mínimo três anos. (Permitida no exterior, a clonagem terapêutica, obtenção de células-tronco a partir de outros tipos de embriões, é expressamente proibida na lei brasileira.) Ora, observam os cientistas, um embrião sem nenhuma chance de ser implantado em um útero, cujo destino inexorável, portanto, é o lixo, ou um embrião congelado, que aos genitores não mais interessa implantar, em hipótese alguma poderia ser considerado vida, ou vida em potencial.

Aliás, mesmo no útero, na reprodução natural, a implantação do embrião só ocorre a partir do 6º dia - e os biólogos trabalham com aglomerados celulares (blastocistos) de até 5 dias. Segundo - e mais importante ainda -, é a Igreja, não a Constituição, que estabelece que a vida se inicia no ato da concepção. Muitos dos mais respeitados cientistas pensam que, nos organismos complexos, a vida começa quando começa a atividade cerebral e termina quando ela cessa. Para outros, a vida humana, diferentemente da vida em geral, começa com a autoconsciência e se extingue quando ela se perde. De todo modo, a equação posta diante do STF é outra: não lhe compete definir o que é vida, mas decidir se as leis (que valem para todos), se o Estado (laico) e se a sociedade (com os seus adeptos de diversos credos, os seus agnósticos e ateus) devem se pautar pelo que determinada religião entende ser o início da vida."

Concordo com o texto que tirei de um Blog¹ (e a figura também). Não poderia colocar de forma mais elegante o caso. Meu problema com a religião é exatamente esse, eles querem impor as regras do "clube" deles em nós que não compartilhamos de suas idéias e que não fazemos parte desse "clube", como acredito já ter dito em um texto anterior. Não me importa no que você acredita, desde que não atrapalhe a vida dos outros.

Sem mais.

¹ - http://ceticismo.wordpress.com/2008/03/05/celulas-tronco-a-decisao-so-pode-ser-uma/
Obs: Fiz um apud do texto porque a fonte original é o jornal Estado de São Paulo.

1 Comment:

Anônimo said...

Espetacular!
ate queria achar um gancho pra poder criticar e gerar discussao, mas nao da... qdo o argumento eh forte e o texto bem escrito, nao da... desisti