quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mudança na roupagem

É, confesso. Vi um blog de um amigo meu e ele mudou todo o layout, fiquei com inveja (inveja boa, seja lá o que isso signifique) e resolvi mudar também. Eu nem sabia que podia fazer isso! Agora eu vou mudar até encontrar o ideal, que é muito dificíl. E vou mudar muitas vezes ainda o título, que ainda não é o ideal também. Também tentarei colocar figuras nos textos. Tá começando a dar trabalho isso aqui...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um breve relato sobre a improbabilidade da vida




Uma discussão recorrente na biologia é o quão improvável é a existência da vida neste planeta. Ou em qualquer outro planeta. Dizem que é obrigatoriamente necessária a existência de uma inteligência maior pra ter criado os primeiros seres porque eles não poderiam simplesmente surgir ao acaso a partir de moléculas não-vivas. Quero discorrer um pouco sobre isso com alguns exemplos.

Bom, primeiramente, não sei se todos conhecem Oparin, o biólogo que enunciou a mais aceita teoria sobre origem da vida. Ele enunciou de uma forma convincente e científica como a vida poderia ter surgido a partir de moléculas mais simples para moléculas mais complexas. O experimento dele foi baseado a partir de deduções de como era a atmosfera primitiva da Terra, baseado em observações de atmosferas dos nossos planetas vizinhos, e em eventos que aconteciam nos primórdios da formação do nosso planeta. Havia na nossa atmosfera metano, gás hidrogênio, amônia e vapor de água. Quando esses quatro elementos são submetidos aos raios ultravioletas do sol e a raios elétricos provenientes de tempestades, surge (até mesmo no laboratório) matéria orgânica. Essas moléculas de matéria orgânica então iriam se aglutinando, formando compostos orgânicos mais complexos, se concentrando em mares de matéria orgânica – chamado de caldo primordial – até que um dia surgiria a vida. Muita gente acha isso improvável demais pra acontecer, e à primeira vista é mesmo. Mas se analisado a fundo dado um tempo muito grande para que esse evento ocorra, ele se torna até muito viável, como uma conseqüência natural das leis da física e da química.

A estatística é uma boa ferramenta pra dizer o que é provável e o que não é provável de acontecer. Ela pode ainda dizer se as chances de acontecer um evento são tão remotas que beiram o impossível, mas acho que a gente se esquece do que a gente realmente observa no mundo real e acaba achando que a estatística é uma verdade absoluta. É como achar que se algo não pode ser encontrado no google quer dizer que tal coisa não existe.

Um exemplo é a formação de um átomo de carbono. Teoricamente, um único átomo de carbono é algo tão inviável de acontecer que se os físicos nunca vissem um, iriam achar absolutamente normal. No entanto o carbono é a base de toda a vida do planeta, todos os seres vivos possuem muitos mols desse átomo. Não é porque algo é improvável de acontecer que esse algo não aconteça. O carbono só é produzido no interior de estrelas, em cometas e em atmosferas de planetas porque provavelmente nesses lugares, algo propicie a sua formação. A estatística não dita regras, só mostra a viabilidade de eventos ocorrerem.

Eu jogo na mega-sena de vez em quando. Sei o quão improvável é a chance de eu ganhar, mas é mais pela diversão do que pela expectativa de acertar os números, pelo menos no meu caso. A chance de se acertar as 6 dezenas do jogo é de 1 em 50.063.860. Teoricamente, se eu jogasse 50 milhões de vezes na mega sena com os mesmo números um dia eu iria ganhar, estatisticamente falando. Mas há ainda um outro aspecto nessa informação. Hoje os sorteios da mega-sena ocorrem duas vezes por semana, de quarta e de sábado. Algumas vezes o prêmio acumula, mas raramente acumula muito. Não acho absurdo pensar que, por mês, uma pessoa venha a ganhar na mega-sena. Se pensarmos que existem 8 sorteios no mês e uma pessoa ganha a cada mês, logo a cada 8 sorteios, uma pessoa ganha. Uma estatística surpreendente, 1/8 de chance de alguém ganhar! Mas então isso quer dizer que em um mês, jogando toda vez com os mesmos números eu vou ganhar com certeza? Na verdade não. A sua estatística de ganhar continua de 1 em 50 milhões (infelizmente). Mas então por que esse 1/8? Simplesmente porque existem muitas milhões de pessoas no Brasil que jogam, sendo que uma delas pode ganhar, mas não necessariamente vai ser você. A chance de alguém ganhar é incrivelmente maior, 1/8 nesse exemplo, do que uma pessoa em específico, que seria da ordem de 1 em 50 milhões.

Pois bem, no caldo primordial existiam milhares, milhões, mols e mols de moléculas orgânicas pululantes naquele imenso mar inerte e sem vida. Essas moléculas obviamente não procuravam se aglutinar para formar algo vivo. Elas se aglutinavam naturalmente, assim como quando você joga óleo de cozinha numa panela com água quando vai cozinhar, pois dado um tempo, pequeno até, as moléculas de óleo tendem a se juntar sem que nada as induza a isso. Essa aglutinação é natural, e ocorre muito entre proteínas. Como no caso do exemplo da mega-sena, a chance de uma única molécula específica, conseguir se juntar de um jeito específico com outras, a fim de formar vida, é irrisória. No entanto, existiam muitos milhões de bilhões de moléculas que poderiam estar “tentando” realizar tal feito. Nós vimos que as chances de alguém ganhar na mega-sena são bem maiores do que uma pessoa em específico ganhar (1:8 contra 1:50 milhões), portanto as chances de surgimento da vida também seria incrivelmente maior, dado o grande número de moléculas interagindo. Aliado a isso um tempinho de alguns 2 bilhões de anos, acho bem plausível a origem de vida a partir de algo não vivo. E o mais importante, isso só precisaria ter acontecido uma única vez.

Claro que vem aquela pergunta: Mas então vida poderia estar sendo formada a partir de matéria inanimada nesse exato instante em algum lugar do nosso planeta? Bom, acabei de mostrar todo o empecilho pra surgir vida. Não é algo muito fácil, mas também não é algo impossível (mesmo porque ela existe). Precisaria existir um ambiente muito favorável pra que isso acontecesse e algum tempo também. Não acho que exista tal ambiente favorável hoje em dia. Provavelmente essa nova forma de vida que viesse a surgir teria ainda que competir por recursos com as formas de vida já existentes no planeta há 2,5 bilhões de anos. Acho que ela perderia essa competição. No entanto, independentemente de pensar se esse novo tipo de vida vingaria ou não, não acho impossível que uma nova forma de vida surja nos dias atuais (e logo desapareça por competição com outras), é apenas muito improvável.

Agora vou puxar a sardinha para nosso lado, como seres humanos típicos. Imaginemos nosso mundo hoje, sem nós humanos. Imagine que existam todos os animais atuais, com os mamíferos dominando o ambiente terrestre. Agora coloque no cenário os dinossauros. Depois de um tempo, qual grupo seria dominante no planeta? Quem assistiu Jurassic Park, que apesar de ficção tem uma parte científica bem embasada, percebe que os mamíferos seriam massacrados! Na época que esses grandes répteis dominavam o mundo, alguns mamíferos de pequeno porte co-existiam no ambiente, no entanto não existiam grandes mamíferos predadores porque estes teriam que competir com os dinossauros por um mesmo nicho ecológico*. Por muitos milhões de anos os mamíferos foram dominados pelos dinossauros. Não fosse pelo meteoro que caiu no México há 65 milhões de anos, essa história dificilmente teria mudado.

Qual a importância disso para nós? Simples. Se aquele meteoro não tivesse caído na Terra, os seres humanos, assim como primatas, felinos, elefantes, camelos e alces provavelmente nunca teriam existido! A probabilidade de um meteoro com aquelas dimensões cair no nosso planeta é cerca de 1 chance em 100 milhões de anos. Ora, não é uma chance grande, mas também não é tão pequena, visto que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos e a vida cerca de 2,5 bilhões. Cabem muitos meteoros daquele tamanho nesse período de tempo. O fato é que se não fosse o acaso daquele meteoro cair, não existiria vida inteligente no planeta (pelo menos não como conhecemos).

Isso tudo que foi dito traz algumas implicações. Era improvável ter aparecido vida inteligente na Terra, mas surgiu. O que impede que em outros lugares também possa existir? É estatisticamente inviável? Já vimos que estatística só nos diz se algo é improvável ou não de acontecer, mas não diz que algo é impossível. A vida é uma conseqüência natural das leis da física e da química, mas o caminho pelo qual a vida vai evoluir não é linear, e a existência do ser humano no planeta, no fim das contas, é pura sorte.



*nicho ecológico: Representa o conjunto de atividades que a espécie desempenha, incluindo relações alimentares, obtenção de abrigos e locais de reprodução, ou seja, como, onde e à custa de quem a espécie se alimenta, para quem serve de alimento, quando, como e onde busca abrigo, como e onde se reproduz. Numa comparação clássica, o habitat representa o "endereço" da espécie, e o nicho ecológico equivale à "profissão". (wikipedia)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Mulher é arte

Eu sei, eu sei, parece exagero, mas os homens vão entender do que eu estou falando. Como dizia Leoni na música garotos "Então são mãos e braços/ Beijos e abraços/ Pele, barriga e seus laços" em que exalta todos os pequenos detalhes da mulher. Ele conseguiu expressar de forma muito eficiente como nós homens (não todos, claro) enxergamos essa obra de arte.

E não estou aqui só falando de bunda, seios e derivados. A parte sexual, o corpo, é um caso a parte, não é disso que eu estou falando. Eu me refiro à curva do pescoço que se expõe quando ela prende o cabelo, ou das costas expostas num vestido com decote atrás, ou quando ela aparece de cabelo molhado, as mãos, os olhos, o sorriso. É como admirar um Monet, onde você vê as pinceladas, as cores, os detalhes, ou quando você presta atenção num solo de guitarra numa música ou nos muitos instrumentos que a compõe. Pequenos detalhes.

Apreciar a mulher como arte não é de hoje, os antigos já procuravam nelas proporções áureas, o número de ouro, para tentar explicar a origem da beleza, para tentar padronizar o subjetivo. A meu ver eles falham miseravelmente. A Mona Lisa, por exemplo, é toda feita baseado em proporções áureas, no entanto é aquele bucho que todos conhecem. Porque a beleza não está, muitas vezes, no conjunto, e sim em um detalhe pequeno que destoa do conjunto, ou o conjunto harmonioso que esconde alguma imperfeição. Por exemplo, a Jennifer Aniston é linda, mas o nariz dela é feio. A Nicole Kidman é linda, mas o nariz dela é algo sem comparação! Tanto que quando o mudaram no filme "As horas", ela ficou bem estranha. A Catherine Zeta Jones tem o rosto mais harmonioso que eu conheço, mas ela é tão bonita que enjoa. Não existem imperfeições nela. E o que realmente diferencia uma arte da outra são as pequenas diferenças, as peculiaridades.

Um exemplo do que digo são as covinhas nas bochechas. Elas aparecem devido a um músculo lateral que fecha a mandíbula, que é duplo ou bífido nos portadores dessa característica. Em muitas culturas elas são vistas como um atrativo e acredita-se que é porque geralmente bebês têm covinhas (que podem sumir tardiamente na vida), dando a idéia de que mulheres que as possuem, transmitem uma imagem de juventude. Seja o que for, mulheres que possuem covinhas chamam atenção quando sorriem. Essa característica é devido a uma diferença morfológica, uma característica genética que não padroniza as mulheres, pelo contrário, as diferencia, as afasta do padrão. Se todas tivessem covinhas, as poucas que não tivessem chamariam atenção, não pelo padrão, mas pelas diferenças.

Muitos que lerem esse texto vão dizer: "Meu, olha o detalhe que esse retardado tá reparando! No nariz das mulheres!", mas isso é arte! É reparar no ínfimo, na nota de rodapé. Tudo é observável e passível de admiração. E todas as mulheres têm algo para se admirar, é só olhar atentamente, todas têm algo que as tornam únicas. Por mais que os quadros do impressionismo sejam muito parecidos, nenhum é igual ao outro, assim como as mulheres.

Sou bem fã da música do Leoni, mostra essa idéia de "mulher é arte", de admiração. Assim como a música “Eu gosto de mulher” do Ultraje a Rigor, um pouco menos poética, mas tão verdadeira quanto. E a grande vantagem de se admirar essa arte é que ela permite uma certa interatividade, não é mesmo?


(Obs: Essa observação é para os cientistas. Eu sei que existe um padrão de beleza provado cientificamente. Todo o meu texto é achismo, mas um achismo fundamentado. Não deveria escrever isso aqui porque enfraquece o meu argumento, mas minha reputação de biólogo vale mais do que meu poder de argumentação. Mesmo assim, por mais que exista realmente um padrão de beleza, ele ainda pode ser subjetivo, visto que o padrão é generalizado.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O poder da saia

O verão possui muitos atrativos! Dias mais longos, sol até as 7 horas da noite, calor, praia, mais disposição. Claro que há aqueles que prefiram um friozinho debaixo do cobertor, comida, chocolate quente com pipoca. Mas algo que há de ser consenso geral é a importância da saia no verão.

Mulheres não têm muita noção do poder que uma saia possui. E não estou aqui falando daquelas minissaias que de tão curtas parecem mais cintos. Falo de saias em geral, curtas ou compridas. As de renda, as compridas de forró, as saias jeans, as de tricô... Elas incitam a imaginação dos homens e são muitas vezes mais sexy do que um biquíni, que não escondem nada. O interessante é o mistério.

A história da saia é antiga, desde 3000 a.C., mas para meus propósitos, a época dos nossos avós em que as mulheres andavam todas cobertas já me serve. Imagina que disparate sair de casa, em meados de 1900, com o tornozelo aparecendo? “Que audácia!”, diriam. Muitas mulheres que mostravam os antebraços, um pedacinho que fosse, já eram consideradas modernas demais, e acabavam passeando pelos pensamentos juvenis da vizinhança masculina. Lá pela década de 50, quando as mulheres começaram a entrar para o mercado de trabalho, as coisas mudaram. Elas agora queriam se libertar, então surgiram os movimentos feministas, e as saias começaram a diminuir. Aos poucos apareciam a mão, os braços, os pés, as canelas... até chegar na mini-saia na década de 60. Agora sim o mundo havia se encontrado! As pernas de fora, pra cima do joelho! Então na década de 70 vieram mais duas vertentes: o psicodelismo com saias de cortes estranhos e bastante coloridas, e o movimento hippie, com saias longas. Daí em diante, qualquer coisa podia.

Tanto podia que as mulheres começaram a ficar mais ousadas (ou sem pudor) e começaram a usar roupas cada vez menores. Aparecia tudo ao mesmo tempo ou, na verdade, não se escondia muita coisa. Mini-saia e tomara-que-caia rosa, com a barriga de fora. E virou moda, todo mundo usou. Depois, quando viram que estava ficando muito vulgar, resolveram esconder tudo de novo, colocando calça jeans por debaixo da saia. E virou moda.

Eu sou assim meio atrasadão, conservador, reacionário. Gosto da época em que o mistério ainda pairava no ar, que a saia mostrava o necessário e escondia o principal. Gosto da inocência, do decote contido, mas ainda sim provocante. O frio tem seus encantos também, as roupas são realmente mais bonitas. Casacos grossos, cachecol, luvas e gorros, todo aquele clima meio europeu. Mas bonito mesmo é ver aquela garota de saia, passeando na calçada, em uma tarde de verão, num doce balanço a caminho do mar...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tecnologia cega

Fui ao shopping com umas amigas e entrei numa loja de móveis e acessórios para o lar. Vi alguns objetos que as pessoas produzem para momentos muito específicos e que poderíamos viver sem. Um exemplo do que vos digo é um apoio pra prato com almofada, você coloca a almofada no colo pra comer enquanto assiste à televisão, ela tem uma parte de madeira para o prato não cair e uma parte de almofada para dar altura para que você possa comer sem ter que se abaixar muito. Essa parte de madeira também impede que você suje a almofada caso derrube comida do prato. Genial! Mas poderíamos viver sem, afinal de contas, vivemos sem.

Esse exemplo banal da almofada foi somente para abrir a discussão. O ponto em que quero chegar é que estamos produzindo tecnologia de que não precisamos. Existe até uma piada que diz que o computador foi inventado para resolver problemas que não existiam antes da invenção do próprio computador. Vou dar exemplos de onde quero chegar.

Quando voltei de viagem, comprei um celular com câmera de 1,3 mega pixels, com memória expansível para guardar minhas fotos. Ele toca mp3, tem jogos, me permite acessar a internet de qualquer lugar que tenha sinal, acessa meus contatos por comando de voz e pasmem, ele faz até ligações telefônicas! No começo eu achei super legal, ouvia música o tempo todo, tirava fotos, jogava os incríveis jogos de corrida e de carteado que ele tem, mas a bateria sempre acabava muito rápido por causa disso e eu ficava sem comunicação, já que ele serve também para fazer ligações telefônicas. Resultado, comprei um mp3 player para minha músicas, tiro foto na minha câmera digital, jogo no meu computador (jogos melhores), e uso o celular exclusivamente para fazer ligações, porque na realidade é o propósito dele!

Um amigo meu tem um computador top de linha. Entre outras configurações que prefiro nem falar pra não deixar o texto extenso, ele comporta uns 500 Gb de informação no HD. Esse amigo diz que já está quase sem espaço, 500 Gb é pouco para o que ele usa. Engraçado, quando os HDs eram de 10 Gb eram pouco também. Eles não poderiam guardar os filmes e músicas em cds e dvds? Precisamos guardar os 50 filmes que baixamos da internet no HD do nosso computador? Temos mesmo que comprar o computador top de linha que sai de 3 em 3 meses? Tem gente que diz que sim, que essa é a tendência da tecnologia.

Enquanto essa questão fica sendo discutida, mais e mais recursos são gastos em tecnologias de que simplesmente não precisamos! Daqui a 3 meses meu computador vai se tornar obsoleto, vou comprar outro e jogar o meu fora. Ele vai ser reciclado? Vira poeira cósmica? Muitas vezes ele simplesmente vira lixo. No Japão, e em outros países de economia forte e alta tecnologia, é proibido pegar objetos nos lixões da cidade mesmo eles sendo praticamente novos. Produzimos milhares de toneladas de lixo e gastamos outros milhares de toneladas de recursos para fazer novos aparelhos. Só eu vejo um problema sério nisso?

Sei, no entanto, que isso é uma necessidade do capitalismo, sempre ter alguém pra comprar novos produtos senão a economia pára. Então não é só reciclagem e preservação do meio ambiente de que precisamos para garantir nosso futuro, precisamos de alternativas à produção de tecnologias de que não precisamos, sem que isso acarrete em uma estagnação econômica. Confesso que não tenho muita bagagem de teoria econômica pra argumentar a favor de uma nova medida que possa substituir o capitalismo, mas creio ser um importante fator que deveria ser levado em conta. Ou resolvemos o problema de onde vamos colocar todo esse lixo tecnológico e onde vamos encontrar novos recursos, ou precisamos pensar em alternativas para que consigamos manter o planeta funcionando para as futuras gerações. Gastar recursos em supérfluos os quais trocamos a cada ano pode parecer pouco hoje, mas pode se tornar um grande problema num futuro próximo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Coisas de homens – parte 2

“Videogame é coisa pra moleque”. É o que eu mais ouço de garotas irritadíssimas por serem trocadas, na tarde do domingão chuvoso, por um bando de marmanjos ligados a joysticks, fazendo campeonato de Winning Eleven. Protesto pelo meu direito de defesa. Não que eu queira que as garotas passem a gostar de jogos eletrônicos, quero só que elas entendam por que gostamos e que respeitem isso.

Jogos eletrônicos são vistos como a 10ª arte por muitos estudiosos. A 9ª arte, por exemplo, são revistas em quadrinhos. Eu não leio, não consumo, não gosto. Mas sei reconhecer que podem ser tratados como arte, visto que já vi para vender mangás de 300 páginas, com desenhos incríveis, cores belíssimas e acabamento de primeira. Arte.

Acho que antes poderíamos tentar definir o que é arte, o que não é uma tarefa fácil, mesmo porque não existe um conceito exato pra isso. Vou ficar com um conceito de um cara que eu não lembro o nome (nunca guardo minhas fontes) que dizia: “Arte é a materialização das emoções”, é quando você cria algo e quer que esse algo que você criou desperte algum sentimento na pessoa que irá apreciar aquela arte. Acho essa definição muito melhor do que a de outros autores como: “Arte é tudo aquilo que você quer que seja” ou “Arte é tudo aquilo que não tem utilidade prática”. A idéia de que arte é a materialização das emoções funciona muito bem pra música, cinema, pintura, literatura, fotografia, teatro, você sente, vive aquele momento. Na minha modesta e humilde opinião, creio que Arte é algo que te leva a algum lugar diferente do que você se encontra, pelo menos por um período pequeno de tempo, tira você da sua realidade, te fazendo sentir diferentes emoções.

Existem músicas que te fazem se imaginar na praia, ou dirigindo em alta velocidade. Existem quadros, fotografias, que te levam para outro lugar, faz você viver diferentes experiências. Livros que te levam a outros países, outras culturas; filmes que te fazem viver um agente secreto do governo americano ou um jantar romântico em Paris. A arte, em suma, é a fuga da realidade. (Claro que nem tudo que te faz fugir da realidade é arte - para os maconheiros de plantão - o inverso não se mostra verdadeiro)

Pois bem, quer algo mais artístico do que algo que te leva a viver na era medieval? Ou roubar um banco? Ou um piloto de avião, agente secreto, técnico de futebol? O videogame é como um filme, você vive a vida de outra pessoa. É uma fuga da realidade, com a diferença de que nos jogos você pode tomar uma posição ativa na história, e não só passiva como nos filmes. Quem já jogou Resident Evil, Legend of Zelda, Counter Strike, sabe do que eu estou falando. Medo, sustos, corações acelerados, felicidade por uma conquista, todas as emoções em um só jogo. Tanto que a indústria dos jogos, atualmente, é maior do que a do cinema. Dizem que ela está chegando perto da indústria da música e que daqui a alguns anos ela arrecadará mais dinheiro que as duas juntas! Existem jogos que a trilha sonora é feita por orquestras famosas, como a filarmônica de Nova York, em que os enredos são feitos por roteiristas profissionais, imagens que beiram o realismo, liberdade de movimentos. Milhões são gastos para proporcionar aos jogadores o máximo de envolvimento e interatividade. O videogame deixou de ser coisa de moleque há muitos anos.

Não estou aqui tentando desmerecer as outras artes, estou apenas tentando incluir os jogos eletrônicos na categoria de arte (Na verdade só estou tentando justificar algo que já é considerado arte). Tenho muitas amigas que dizem que não, que é exagero da minha parte. Acho que se elas se esforçassem para entender ao invés de ficar reclamando dos namorados que as trocam pelos malditos joysticks, podiam aprender como jogar, jogar junto com eles. Talvez poderiam tirar algum proveito, ter alguns momentos de diversão. Ou também podem nos deixar jogando e ir curtir um livro, ou ver um filme. Cada um com sua arte.

Coisas de Homens – Parte 1

Futebol e jogos eletrônicos, duas coisas que a maioria das mulheres não conseguem gostar. Tudo bem, todos têm direito de gostar de coisas diferentes. Acho que isso, inclusive, está no cerne da diferença entre homens e mulheres, gostar de coisas diferentes. Mulheres gostam de bolsas e sapatos. Nós homens não entendemos muito bem o porquê, não ligamos muito para o que vai nos nossos pés e se ligamos, nos contentamos em ter dois pares apenas. Não entendemos qual o fascínio em ter um utensílio para guardar um monte de tranqueira que provavelmente poderíamos passar sem e que só serve para mostrar para as amigas, visto que os homens não ligam muito. Enfim, não é sobre isso que eu quero discutir, quero defender racionalmente nosso direito, como homens, de gostar de futebol e jogos eletrônicos e mais, defender a idéia de que jogos eletrônicos são sim a 10ª arte.

Outro dia eu estava conversando com um amigo meu sobre genialidade. Eu acredito que existam gênios, pessoas que nascem com uma predisposição maior para aprender, para realizar, do que outras pessoas, no que meu amigo rebateu dizendo que viu uma entrevista de uma mulher que dizia que não existiam gênios, as pessoas eram apenas mais ou menos inteligentes ou aptas a certas coisas por influência social. É intuitivo, no entanto, afastar esse pensamento maluco da mulher em questão, apesar de não ter visto os argumentos apresentados por ela, se pensarmos na variabilidade genética dentre os 6 bilhões de habitantes existentes no nosso mundo. Alguns nascem com uma predisposição natural para certas coisas, não há como negar isso. Os milhares de alunos que prestam medicina todo ano, estudam com o mesmo afinco que todos os candidatos que concorrem com eles. Por que alguns se saem melhor? Por que existem aqueles que acertam 88 de 89 questões, será que essa pessoa realmente estudou mais que todo mundo? Acho difícil. Certamente esse sujeito consegue guardar informações mais facilmente, ou guardar mais informações do que outros.

Claro que a genética não é tudo. Se esses indivíduos não forem incentivados pela sociedade podem não desenvolver a habilidade, seja ela qual for, mas eles possuem intrinsecamente a capacidade para tal. Mas e o futebol com isso? Imagine então quantos garotos treinam futebol desde pequenos para se tornarem jogadores profissionais no futuro. Imaginou? É um número grande. Agora imagine apenas o CT (centro de treinamento) onde Robinho e Diego, jogadores que surgiram no CT do Santos, treinavam. Não posso garantir quantos outros disputavam uma vaga, mas garanto que não eram poucos. Vamos chutar um número de 50. Por que só os dois é que foram jogar na Europa? Por que os 50 colegas deles que treinavam com o mesmo afinco e dedicação não conseguiram? Porque Robinho e Diego estavam acima da média, eram melhores. E veja, claro que tem a ver com musculatura também, mas o Robinho é bem mirradinho, se fosse apenas por este quesito, ele não seria tão bom quanto ele é hoje. Até tentaram aumentar a massa corpórea do jogador, mas o organismo dele não respondeu.

Ainda não cheguei ao ponto, mas estamos quase lá. Assim como Kaká, Zidane, Cristiano Ronaldo, Messi, jogadores de diferentes nacionalidade mas que jogam muito bem, eles foram os melhores dentre os jogadores do CT dos países onde atuaram, entraram em bons times, ganharam fama internacional e foram parar em times europeus. Ver uma partida européia, não é apenas assistir um bando de marmanjos correndo atrás da bola. É ver os melhores do mundo, em um determinado quesito, atuando. No caso futebol. É o mesmo que ver Monet pintando um quadro, ou ouvir Mozart tocando uma sinfonia. E não é exagero!

Queria ter podido ver Pelé jogando. Não sei se vocês sabem, mas Pelé, em algumas jogadas, tinha um tempo de reação de 0,4 segundos. O tempo de reação de uma pessoa normal (isso a gente aprende em aulas do CFC) é de 0,7s. Pelé pensava, em algumas jogadas, quase duas vezes mais rápido que o adversário! É por isso que ele era chamado de gênio, porque estava acima da média dos jogadores de seu tempo.

Portanto se você não gosta de futebol, é um direito seu, assim como eu também não gosto dos quadros de Picasso, acho horroroso. Mas sei que ele foi um grande pintor, que revolucionou a época dele, que quebrou os paradigmas dos impressionistas que pintavam fora do estúdio para fazer pinturas internas sobre diferentes ângulos de visão. Respeito sua importância na história da pintura, assim como respeito quem não gosta de futebol. Mas gostaria, como homem admirador de arte e de gênios atuando, de ser respeitado por gostar de futebol. E da próxima vez que ouvirem falar de futebol-arte, saberão que o termo é literal.