sexta-feira, 25 de abril de 2008

Seleção de Espécie

Computadores, automóveis, agricultura, eletricidade, tecnologias que nos possibilitaram resolver problemas e longevizar nossa existência na Terra. No começo da nossa história a expectativa de vida de um ser humano era cerca de 50 anos, enquanto que nos dias atuais essa expectativa chega em torno 80 anos, um aumento significativo, 30 anos a mais de vida! Isso sem contar na qualidade dessa vida: higiene, alimentação, lazer, informação e conforto que desenvolvemos ao longo dos anos. Existe uma causa simples pela qual conseguimos adiar nosso retorno ao nosso estado primitivo e inerte de outrora, o homem conseguiu, ao longo dos anos, “afrouxar” a pressão da seleção natural que atuava na espécie.

Basicamente o que limita o crescimento de um ser vivo, ou seja, onde a seleção natural atua, são três elementos: recursos (alimento, água, material para fazer ninhos etc.), predadores (e parasitas) e espaço. Com a invenção da agricultura e a canalização de rios o homem resolveu seu primeiro problema, o de obter recursos vitais para a sobrevivência; a utilização de ferramentas garantiu soberania sobre os outros animais e por isso não teve mais que se preocupar com possíveis predadores, enquanto que os parasitas foram sendo combatidos com remédios cada vez mais eficazes; e por mais que tenhamos ocupado quase todos os ambientes da Terra, ainda há algum espaço disponível para termos mais pessoas. A bem da verdade é que todos os seres humanos caberiam em um cubo de 1km³, portanto espaço ainda não é problema. Sob esse prisma, vemos que a seleção natural, tão implacável no começo da civilização humana, já não exerce uma forte pressão seletiva no sentido de beneficiar a sobrevivência do mais apto, quase qualquer ser humano é capaz de transmitir seus genes.

Mas quais seriam os fatores que a pressão seletiva tenderia a beneficiar na espécie humana? Dentre outros fatores também importantes, privilegiarei um volume cerebral maior que o dos outros animais e nossa postura ereta sobre duas patas, o que liberou nossa mão com polegar opositor para construir ferramentas e arremessar objetos (nenhum animal arremessa objetos com a mesma destreza que nós humanos). Uma boa capacidade de comunicação nos permitiu ensinar aos nossos filhos tecnologias e conhecimento que foram passados por gerações a fio. Logo, os seres humanos foram selecionados no sentido de serem mais inteligentes e serem bons caçadores.

Nos dias atuais, no entanto, ser bom caçador e ter mais inteligência não prevê que você terá maior sucesso reprodutivo como no começo da civilização humana. Devido à descoberta da penicilina (alegoria para todos os avanços da medicina), da energia elétrica, do petróleo como combustível, a seleção genética na nossa espécie perdeu sua importância. Isso não quer dizer que o ser humano parou de evoluir no sentido estrito da evolução, mesmo porque evoluir significa simplesmente mudança. Também não quer dizer que ter genes diferentes no pool gênico da espécie não faz mais diferença, é importante ainda termos variabilidade, não sabemos o que nos aguarda no futuro. Mesmo assim, milhares de pessoas nascem todos os dias, muitos genes mutantes ruins e deletérios aparecem, mas, em muitos casos, não mais determinam a morte dos indivíduos portadores, graças à intervenção da medicina e das descobertas da ciência.

Faço uma pausa aqui para esclarecer, antes que seja mencionado, que por mais que digam que o que existe hoje é uma seleção economia e não uma seleção natural, pode ser que seja uma afirmação equivocada. Concordo que ter dinheiro permite melhor cuidado parental, mas geralmente pessoas ricas têm um, dois ou nenhum filho enquanto que pessoas de baixa renda têm mais filhos, de 3, 4 ou mais. Os ricos então são estrategistas K (poucos filhos e muito cuidado parental) e os menos afortunados financeiramente são estrategistas R (muitos filhos e pouco cuidado parental). Vê-se então que nesse caso também não importa qual a sua renda, as chances de transmissão de genes na espécie humana não segue mais nenhum tipo de seleção, nem mesmo a econômica. Não estou entrando no mérito de qualidade de vida, e simplesmente de passagem dos genes para a próxima geração.

O que aconteceu então com os seres humanos que deveriam ser os mais adaptados da espécie humana no passado se eles não são mais selecionados positivamente pela seleção natural? Estão por aí vivendo entre todos os outros que não possuem essas características, mas que possuem outras que também são importantes no mundo de hoje. Os melhores caçadores do passado podem ser hoje atletas, ou corretores de imóveis, ou um motorista de ônibus, ou um engenheiro. Não existe por que eles estarem obrigatoriamente inseridos em um evento de esporte, mas pode ser que estejam. E se estiverem, provavelmente eles irão se sobressair sobre os outros, visto que eles têm maior vigor físico, maior capacidade pulmonar, mais músculos, maior quantidade de produção de hormônios esteróides, ou qualquer outra característica que fariam deles bons caçadores. Não me espantaria se os encontrasse entre os atletas que batem os recordes mundiais. Os mais inteligentes, por sua vez, poderiam ser um físico renomado, ou um fotógrafo, ou um guitarrista de uma banda de rock, ou uma atriz. Não necessariamente eles estarão inseridos em um evento intelectual, mas pode ser que estejam. E se estiverem, provavelmente vão contribuir significativamente para o conhecimento humano. Entre esses indivíduos se encontram Galileu, Mozart, Newton, Darwin, Einstein, e outros grandes gênios da humanidade; não me espantaria encontrá-los também entre os inventores dos microprocessadores, da fibra ótica e do telégrafo, por exemplo.

O ponto onde quero chegar é que os seres humanos que tenderiam a passar seus genes adiante por terem sido os melhores adaptados no passado não realizam mais essa tarefa, eles permitem que toda a humanidade passe seus genes adiante de um modo mais efetivo ao descobrir tecnologias, meios de longevidade e qualidade de vida. A Ciência é o principal motor para que isso aconteça: a eletricidade, descoberta por Graham Bell, não fez com que ele passasse mais eficientemente seus genes adiante, mas sim os genes de toda a espécie humana! A penicilina, descoberta por Pasteur, fez com que as chances de cura por tuberculose, se tratada corretamente, passassem de zero a muito alta (60 milhões são infectados anualmente e cerca de 2,5 milhões morrem).

Confesso que me admira ainda hoje, século XXI, com toda a informação existente, toda a história humana, toda a tecnologia, ainda haver pessoas que negligenciam a educação, o meio ambiente, a qualidade de vida, e a importância de reconhecermos as pessoas como iguais independentemente de credo, sexo e cor. As pessoas ainda se vêem surpresas ao ver um país ter como candidatos à presidência um negro e uma mulher quando deveriam achar normal que isso acontecesse. Talvez por isso eu seja meio pessimista em relação ao futuro da humanidade. A evolução do ser humano foi, dentre outras características, direcionada no sentido de um maior volume cerebral, conseqüentemente a um raciocínio mais apurado, e acho realmente um desperdício ver tantas pessoas relutantes na atividade de pensar. Não que pensar vá nos garantir mais descendentes, mas talvez assegure um planeta pra podermos viver no futuro.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Curriculum Vitae


Todo mundo constrói uma história ao longo da vida, ela pode ser interessante, excitante, ou não, tudo depende das metas que você traçou e do que conseguiu ou não realizar. Quando sentamos na varanda numa tarde de sol e olhamos para trás, cansados, avaliamos se nossa vida foi boa ou não baseado nas nossas experiências e acontecimentos marcantes. É o nosso currículo de vida. Aquele que a gente conta para os netos com orgulho, ou que os amigos contam nas rodas para te envergonhar. Por exemplo, tenho um amigo que roubou um pino de boliche (longa história) e um outro que, quando bêbado, chamou uma policial de gostosa. São essas as experiências que engrandecem e que, no final das contas, valem a pena. Existem certas coisas que devem ser feitas antes de morrer, subjetivamente falando, e listarei o meu currículo com as características que eu considero importantes e coisas que ainda faltam completar (fiz uma lista modesta e realizável).

Já andei de navio
Já fui no oktoberfest em Blumenal
Já fui no carnaval de rua em Diamantina
Já morei fora
Já nadei em rio com cachoeira
Já bebi de não me lembrar de nada no dia seguinte
Já fui em um parque aquático
Já fui a um luau
Tive uma banda e me apresentei pra uma galera me assistir
Toquei piano
Fiz guerra de travesseiro
Já fui em festa do chapéu, festa da etiqueta e festa do pijama (do cabide ainda não!)
Tenho uma tatuagem
Já me apaixonei
Já andei de kart
Comi marshmallow derretido na fogueira
Já fui num show de rock internacional
Já joguei futebol na chuva
Dei um soco bem dado em alguém
Já entrei no mar à noite de roupa
Já transei no elevador
Fui num jogo do Brasil
Apertei a campainha de uma casa e saí correndo
Já encontrei uma ex e tive uma recaída
Já matei aula
Já colei em uma prova
Terminei um jogo difícil de vídeo game
Fiz bunda-lê-lê
Já fiz guerra de bexiga d’água
Já invadi um hotel e fui escoltado pra fora
Já fiz apostas do tipo “vamos ver quem fica com mais meninas essa noite”
Já mandei um xaveco tosco
Fiz uma música
Tive um bicho de estimação
Já empinei pipa
Já ganhei uma medalha de honra ao mérito
Dirigi no autódromo de Interlagos
Já andei de avião
Já vi uma pessoa famosa


Dos importantes que eu me lembro foram esses, mas ainda faltam algumas coisas para realizar:


Pular de pára-quedas
Fazer rapel, bungee jump e rafting
Ir no Hopi Hari (Disney também)
Escrever um livro
Andar de balão de ar quente
Pisar nos 5 continentes
Plantar uma árvore
Esquiar
Rolar rua abaixo dentro de um pneu
Nadar pelado
Correr da polícia
Andar de carrinho de rolimã (é, isso é um pecado eu ainda não ter feito)
Contribuir em todas as belas artes (mesmo que mal e porcamente)
Ir a um swing
Ir num paintball
Ir a um rodeio
Surfar (ou pelo menos tentar)
Passar dos 160km/h
Dar um cavalo de pau (sou cagão pra isso)
Aula de dança
Aprender umas 3 línguas fora o português
Acampar
Aprender a tocar saxofone
Conhecer pelo menos todas as capitais dos estados brasileiros
Ver pelo menos uma das 7 maravilhas do mundo moderno,
Passar a mão em um golfinho
Fazer um curso de mergulho



Humildes e realizáveis. Ter muito dinheiro é muito vago, o importante é ter foco e priorizar o que se quer fazer. Não sei como terminar esse post...

quinta-feira, 6 de março de 2008

A justiça tarda... e por enquanto é só



Na figura se vê um punhado de jóias representando de um lado o clero católico e do outro um tecido estranho representando células tronco. Essa imagem se refere à lei que seria votada dia 05/03/08 e que foi adiada pelo Supremo Tribunal. Acho que agora fica claro por que a discussão religiosa por parte dos biólogos é importante e, ainda hoje, pertinente. A Veja dessa semana traz uma entrevista com a bióloga Mayana Zatz, diretora do Centro do Genoma Humano na USP, esclarecendo fatos como que os embriões que seriam utilizados para estudo, seriam aqueles não usados em clínicas de fertilização in vitro (bebê de proveta), ou seja, os que não seriam implantados no útero da provável mãe. Se esses embriões são vida, como os religiosos alegam ser, mantê-los em um tubo infringiria a lei de cárcere privado, e jogá-los fora seria assassinato! Jogar fora e matar todos os embriões pode, fazer estudos com eles (que resultará em morte) não. Esse tipo de incongruência, tão normal na igreja, é um problema que entrava estudos de uma tecnologia que poderia combater diabetes, Mal de Parkinson, Alzheimer, doenças degenerativas, entre outras. Quando os outros países tiverem desenvolvido a técnica (porque a sociedade é realmente laica), teremos que pagar royalties para eles, sendo uma fortuna de tratamento. Acho difícil que se alguém souber que existe uma cura pra doença degenerativa que sua mãe, sua esposa, seu filho tenha, e que não pode ter acesso porque é caro demais, irá aceitar de bom grado que é a vontade de Deus.

Abaixo, um trecho de um texto que achei na internet:

"Primeiro, a lei só liberou os estudos e as terapias do gênero com embriões descartados, por inviáveis, nas clínicas de reprodução assistida ou congelados há no mínimo três anos. (Permitida no exterior, a clonagem terapêutica, obtenção de células-tronco a partir de outros tipos de embriões, é expressamente proibida na lei brasileira.) Ora, observam os cientistas, um embrião sem nenhuma chance de ser implantado em um útero, cujo destino inexorável, portanto, é o lixo, ou um embrião congelado, que aos genitores não mais interessa implantar, em hipótese alguma poderia ser considerado vida, ou vida em potencial.

Aliás, mesmo no útero, na reprodução natural, a implantação do embrião só ocorre a partir do 6º dia - e os biólogos trabalham com aglomerados celulares (blastocistos) de até 5 dias. Segundo - e mais importante ainda -, é a Igreja, não a Constituição, que estabelece que a vida se inicia no ato da concepção. Muitos dos mais respeitados cientistas pensam que, nos organismos complexos, a vida começa quando começa a atividade cerebral e termina quando ela cessa. Para outros, a vida humana, diferentemente da vida em geral, começa com a autoconsciência e se extingue quando ela se perde. De todo modo, a equação posta diante do STF é outra: não lhe compete definir o que é vida, mas decidir se as leis (que valem para todos), se o Estado (laico) e se a sociedade (com os seus adeptos de diversos credos, os seus agnósticos e ateus) devem se pautar pelo que determinada religião entende ser o início da vida."

Concordo com o texto que tirei de um Blog¹ (e a figura também). Não poderia colocar de forma mais elegante o caso. Meu problema com a religião é exatamente esse, eles querem impor as regras do "clube" deles em nós que não compartilhamos de suas idéias e que não fazemos parte desse "clube", como acredito já ter dito em um texto anterior. Não me importa no que você acredita, desde que não atrapalhe a vida dos outros.

Sem mais.

¹ - http://ceticismo.wordpress.com/2008/03/05/celulas-tronco-a-decisao-so-pode-ser-uma/
Obs: Fiz um apud do texto porque a fonte original é o jornal Estado de São Paulo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Meu projeto de mundo

Cansei! Cansei desse mundo imperfeito que Deus projetou pra nós! Que espécie de arquiteto ele é pra projetar um mundo desses? Ele se formou na Poli, só pode ser. Eu, um reles mortal, projetaria um mundo melhor, e mais igualitário. Claro que tem gente que vai mencionar aquela velha história de que Eva foi banida do paraíso por comer a maçã e por isso estamos nesse mundo de merda. Mas deixando a historinha de que o mundo surgiu em 7 dias, que Adão surgiu do barro e a mulher da costela dele (que nem de longe é comprovada por fatos), vamos pensar em um Deus que criou o universo lá no início dos tempos e não interveio mais depois, deísmo de Voltaire e Diderot.

Esse negócio de presa e predador, por exemplo. De um lado os predadores com seus dentes afiados, garras, coloração que imita o ambiente, tudo pra conseguir capturar a presa. Do outro lado a presa tem pernas compridas pra fugir, com coloração específica pra se camuflar e não ser vista. De que lado Deus está, afinal? Se for do lado pra predador, por que dar pernas rápidas às presas? E se estiver do lado da injustiçada presa que nada faz além de se alimentar, fugir e se reproduzir, por que dar dentes e garras tão mortais aos predadores?

Por falar em dentes, eu também não criaria a cárie. Hoje em dia não temos muitos problemas com isso porque temos dentista, escova e pasta de dente. Muitos crânios de hominídeos, no entanto, são encontrados com alguns dentes a menos, provavelmente devido à perda deles por complicações odontológicas. Isso foi um problema até a idade média. Deus poderia ter criado alguma substância na nossa saliva capaz de matar bactérias, assim como existe na lágrima; desse modo as bactérias causadoras de pequenos orifícios nos dentes não poderiam proliferar na nossa boca. Por que ele não pensou nisso? E se pensou, ele só criou a cárie para causar dor?

Por que as abelhas têm de deixar parte de seus órgãos internos quando ferroam algum animal e por conseqüência acabam morrendo? Poderíamos argumentar que elas o fazem porque Deus pensou em um modo de puni-las caso elas se mostrassem agressivas demais. Justo. Mas então por que as vespas ferroam suas vítimas sem nenhum tipo de repreensão? Será que Ele queria privilegiar esses animais em detrimento das injustiçadas abelhinhas? Estranho. No meu mundo as abelhas não morreriam ao picar os malvados ursos e outros animais como seres humanos que vão roubar mel! Aliás, elas não picariam, dividiriam de bom grado a grande quantidade de mel de que elas dispõem.

Bom, pra resolver o problema de alimentação no mundo eu faria com que todos os animais fossem herbívoros. Nada mais de comer carne e matar animais porque eles têm sentimentos, não é mesmo (Têm mesmo?)? As plantas, então, não poderiam mais ser duras, nem ter espinhos, nem veneno, nem ter sílica que serve pra desgastar os dentes dos herbívoros, nem serem de difícil acesso. Pra que essa dificuldade toda? Eu faria uma planta macia e suculenta como uma alface, ela cresceria em qualquer clima e teria um gosto espetacular! Não é perfeito? Além disso, ainda colocaria nela todas as vitaminas, sais minerais, carboidratos e proteínas, pra não precisar ficar matando animal por proteína, e ela cresceria que nem mato para não precisarmos ficar tendo tanto trabalho pra encontrar comida. Outra alternativa ainda, seria fazer com que nosso corpo pudesse produzir todos os aminoácidos, inclusive os essenciais, assim eu não precisaria obtê-los através de alimentos protéicos (animal) e poderia produzir todas as proteínas a partir de gordura e glicose. Mas prefiro ficar com minha alface perfeita. Temos que levar em conta ainda que nenhum animal digere celulose. Se as plantas são tão abundantes, por que nenhum animal produz uma enzima que digere o mais abundante carboidrato do planeta? Só algumas bactérias e alguns protozoários flagelados ficam com o direito? Não é justo! Se eu fosse o arquiteto eu faria a enzima celulase animal e todos os animais a teriam. Assim os homens não precisariam mais ficar matando animais de forma tão cruel como eles fazem, poderíamos viver só de plantas.

Os vírus não existiriam. Quem foi que inventou eles? São uns preguiçosos que se reproduzem às custas dos outros! Eles e os parasitas, seriam todos banidos! Os primeiros seriam as vespas que paralisam aranhas com seu veneno e colocam seus ovos dentro delas; as larvas provenientes desses ovos comem a aranha viva, por dentro, lentamente, por dias a fio! Que projetista pensou nisso? Que mente doentia! Sem falar no protozoário da malária que provoca febre de 40º por destruir nossas hemácias, ou os protozoários da Doença de Chagas que comem o músculo cardíaco, ou o bacilo da tuberculose que faz com que cuspamos nosso pulmão pra fora. Não, parasitas não existiriam no meu projeto, cada um teria que conseguir viver por seu mérito próprio.

Se o grande projetista podia fazer qualquer coisa, por que fez tudo tão mal-feito? Pra que tanta estrela, planeta, buracos negros, se a gente não pode ver tudo e se elas não fazem diferença pra nós? E pra quê nove planetas no sistema solar (Plutão ainda é planeta pra mim por motivos emotivos) se Deus ia colocar vida em um só? Se comida fosse disponível para todos, assim como água, uma grande parte da discórdia mundial já seria evitada. Será que o projetista não pensou nisso tudo? Ou será que simplesmente não existe um projetista?

Engraçado que se a gente pensar que o mundo não é perfeito exatamente porque não existe um projetista, tudo faz mais sentido. As presas e os predadores surgiram por co-evolução, um evoluindo no sentido de vencer o outro. Por isso quando um evolui no sentido de ser rápido na fuga, o outro evolui em se camuflar no ambiente pra chegar perto da presa sem ser notado. Se pensarmos que as cáries se devem a bactérias que encontraram alimento em um ambiente onde outros seres não vivem e portanto não têm competidores, pensar que ela foi criada deliberadamente por um projetista não faz tanto sentido.

As abelhas possuem o ferrão ligado aos órgãos internos porque certamente é melhor do que não possuir nenhum elemento de defesa para a proteção do seu precioso mel. No entanto, elas não podiam simplesmente criar um órgão especial pra isso, elas precisariam esperar que mutações aleatórias surgissem e que a seleção natural, aos poucos, fosse selecionando as que eram vantajosas. Infelizmente no caso da abelha, o acaso fez com que o único elemento de defesa fosse uma prolongação dos órgãos, em forma de gancho. Sem contar que o ferrão vermelho que entra na pele e aos poucos pulsa o veneno dentro da vítima são os próprios órgãos internos da abelha! Se ela não os expelisse, morrendo em seguida, o veneno não seria tão eficiente pra afugentar o invasor. Mas por que ela tem que morrer pra realizar tal feito e a vespa não precisa? Porque a seleção natural teve que lidar com o que já existia. A abelha evoluiu num sentido e a vespa em outro, não necessariamente no mais perfeito, mas no melhor possível para ela no momento.

Se existe uma demanda tão grande de planta, por que nenhum animal consegue digerir? Eles tiveram que fazer associações com outros organismos que conseguiam quebrar a celulose para conseguir se alimentar da parede celular dos vegetais. As plantas, por sua vez, evoluem no sentido de impedir que sejam comidas através de espinhos, veneno, látex e sílica que desgasta o dente (entre outros mecanismos de defesa). Os animais evoluem no sentido oposto, como o caso do elefante, que possui três molares gigantescos que vão se desgastando ao longo da vida pelo atrito da sílica da planta com o dente. É quase como mastigar areia. Quando os dentes se desgastam por completo, o elefante não pode mais comer e morre. Não faz sentido pensar que um projetista colocaria, deliberadamente, um empecilho no que certamente vai servir de alimento para o elefante e para outros herbívoros. E o elefante morre de fome! Que espécie de projetista pensaria em fazer um animal que é predestinado pra morrer de fome?

Os vírus e os parasitas se aproveitam de vida já existente pra sobreviver (no caso dos vírus apenas para se replicar). Não existe um porquê de se fazer organismos parasitas, era mais fácil construir animais que pudessem viver independentemente um do outro. Eles existem apenas porque na evolução eles ocuparam um nicho que nenhum outro animal ocupava, podendo sobreviver sem competidores. E ser parasita não é pra qualquer um não! Existe um grupo, o dos Cycloneuralia, que possui uma película de proteção contra o ataque do sistema imunológico do hospedeiro. Nesse grupo se encontram os nematelmintos, lombrigas por exemplo. Não é qualquer animal que pode ser parasita, muitos podem cair no nosso trato digestivo, mas só alguns poucos conseguem sobreviver. Faz todo sentido eles existirem por evolução, mas não por criação consciente. A não ser que você fosse um projetista sádico que gostaria de ver alguns animais, até mesmo humanos, sofrendo enquanto outro organismo cresce em seu interior, às suas custas.

Existem outros exemplos como: Por que colocar olhos atrofiados em animais que vivem em cavernas se eles não vão usar nunca, ao invés de fazer animais sem olhos de uma vez? (Pela evolução, os ancestrais tinham olhos e não usavam, por isso atrofiaram); Por que colocar fendas branquiais no embrião de seres humanos se somos animais estritamente terrestres? (O ancestral dos cordados tinha fendas branquiais que se mantém como órgão vestigial até hoje). Foram poucos exemplos, mas se olharmos atentamente para a natureza, podemos ver que tudo nela faz mais sentido à luz da evolução e da seleção natural do que da criação consciente, exatamente porque por mais que achemos que a natureza é perfeita, se pararmos pra analisar, veremos que ela não é. Ela continua sim sendo fantástica e objeto de nosso fascínio, mas não perfeita. Se um criador com tanta onisciência e onipotência poderia fazer algo tão perfeito e não o fez, ele é, no mínimo, incompetente! Por outro lado, se pensarmos que a evolução se deu sem um propósito, ao acaso, essas imperfeições seriam completamente plausíveis e aceitáveis, afinal de contas, não havia ninguém ditando as regras (a não ser a seleção natural).

Por fim, se ainda formos pensar num ser supremo que criou o universo ele com certeza não é tão bom quanto as religiões pregam. Se ele foi capaz de criar animais que se alimentam de outros enquanto estão vivos, ou animais que estão predestinados a morrer de fome, ele deve ser ou um cara realmente malvado, ou um ser possuidor de um humor muito negro.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Só mais um conto

Era sempre a mesma coisa, o que você veio fazer, quanto tempo vai ficar, vamos sair um dia desses. Já não tinha paciência para conhecer novas pessoas, visto que havia há algum tempo tinha feito alguns amigos sólidos, com os quais morava. Depois de um mês essas pessoas iam-se e novas viriam contar exatamente as mesmas coisas, com a mesma empolgação que os que partiram tinham quando chegaram. Chega uma idade da vida da pessoa em que ela acha, ingenuamente, que já conheceu todos os tipos de pessoas, que ninguém mais irá lhe causar grande impacto. Sentia saudade dos seus velhos amigos, passou a dar importância para a família. Sentia-se novo.

Naquele começo de mês, tudo se renovava, como de costume. Novos membros se incorporaram à fantasia da cidade, à rotina semanal, ao deslumbramento passageiro; outros partiam para nunca mais serem vistos. Ia-se arrastado ao seu compromisso diário, que já tratava displicentemente. Era, no entanto, um compromisso, deveria honrá-lo. A passos pesados, lutando contra o vento frio entrando por debaixo do cachecol, o único conforto era o cheiro do ar gelado de que ele tanto gostava. Tinha um gosto peculiar por pequenos prazeres. Gostava do chuvisco molhando seu cabelo, gostava de ver as pessoas de preto, mal vestidas por roupas de grife, gostava de se sentir livre do julgamento de olhos curiosos ao seu lado. Estava confortável em seu pequeno exílio interior.

Comprou um café para espantar o sono e o frio, gostava de um bom café logo de manhã. Seguiu seu rumo, digitou a senha para entrar, preferiu as escadas ao elevador. Chegando à classe, foi conhecer as pessoas que destinaram a ele esse ano, além dos amigos feitos já há algum tempo, haveria de ter novos rostos. Atrasado como de costume, analisou as possibilidades, julgou as aparências, se deteve ao seu mundinho confortável de sempre. Não queria mesmo se envolver. Era, apesar de muito observador, uma pessoa que não gostava de se misturar, não deixava as pessoas entrarem em sua vida facilmente, todas eram desinteressantes até que se provasse o contrário. Ao longo do dia, no entanto, percebeu um olhar, um sorriso diferente vindo de uma garota do outro lado da sala, mas esta não lhe atraiu. Usava uma camiseta da faculdade que ela cursava, o que mostrava que era brasileira, e ligeiramente afortunada financeiramente. Tinha um sorriso bonito que se acentuava por uma covinha na bochecha direita, olhos bem delineados, cabelo castanho incrivelmente liso e bem cuidado. Era bonita, mas não tinha sido realmente atraído por ela; não à primeira vista, pelo menos.

Aos poucos toda a barreira é sobrepujada. Em meio à necessidade de se comunicar, aquele primeiro sorriso reaparece como algo intrigante, que aguça seu instinto inquisidor. Queria saber sobre o que pensava, do que gostava e, principalmente, do que ela não gostava. Tinha para si que se impressiona mais pelos defeitos que não possui do que pelas qualidades que se tem. Somente não ter defeitos não é suficiente, obviamente, tem de haver também algo a mais, algo que o diferencie, alguma qualidade que satisfaça. O mistério que o circundava por ser calado e reservado resolvia o problema de forma bem razoável, tornava-o diferente dos demais. Esforçava-se para manter essa imagem.

Começaram então a ser amigos, ela era interessante afinal. Gostavam de conversar um com o outro, tinham já aquela cumplicidade no olhar, típica de amigos de longa data. Olhavam um para o outro, com um sorriso de conhecimento de causa, entre risadas sinceras, curiosidade e admiração. Tinham gostos em comum. Gostava de ouvi-la, o que não era corriqueiro; mais estranho ainda era que ele, na sua anti-socialidade costumeira, desatava a dizer das suas coisas, talvez por saber que ela se importava e se interessava pelo o que ele tinha a dizer. Dias e dias de encontros, os dois lados teimando por um empate, nenhum dos dois dava o braço a torcer. Não ousariam ceder. Foram ao teatro, em assentos distantes, apesar de ele esperar angustiadamente sua chegada. Esforçava-se para não deixar transparecer suas emoções. Saíram outras vezes e o sentimento ia crescendo, se fortalecendo. Sentia-se, no entanto, inseguro. Achava-a linda, independente e incrivelmente interessante, não imaginava encontrar alguém como ela, uma parte nova em sua vida já não tão segura, como uma flor colorida no seu mundinho preto e branco. Talvez fosse sua insegurança que o impedia de dizer tudo isso a ela, talvez fossem fantasmas de relacionamentos passados que todos carregam consigo e que atormentam até mesmo as almas mais seguras de si que o impelia a não tomar uma atitude. Não se sabia direito os motivos, mas levava a situação sem muita pretensão.

O inevitável tenderia a florescer. Um daqueles encontros nada fabricados, pouco calculados, em que o momento certo para que as coisas aconteçam nunca fica bem delimitado até que aconteçam de fato. Uma situação nada planejada que culminou em um perfeito fim. De um encontro de muitas variáveis e muitos personagens, restaram apenas os atores principais, que se preparavam para o último ato. No princípio tudo era meio nebuloso, uma sensação de incredulidade com um misto de conquista, mas tudo se encaixou bem, como num roteiro, e ele constatou que, por mais inusitado que fosse, tivera sido bom, incrivelmente bom. Ao som de uma banda ao vivo que tocava a música favorita da garota, engolfou um gole de coragem e, num beijo demorado e ousado, de entrega, selava aquela química perfeita que emanava dos dois. Haviam cedido à vontade maior, mesmo inesperada, deixando-se levar por aquele momento raro, por àquela afinidade ímpar, que duraria o tempo de um romance de verão.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O sentido da vida

Tudo bem então, dando prosseguimento ao texto anterior, a presença dos seres humanos na Terra é pura sorte. A vida, por outro lado, não é, ela é uma decorrência natural das leis da química e da física dentro de certas condições específicas. Então aquelas velhas questões sobre “Qual o sentido da vida?”, “Para que estamos aqui?”, que as religiões insistem em dizer que a ciência não consegue responder, ganham outro caráter. Elas simplesmente não fazem sentido de serem perguntadas.

Voltemos aos primórdios da história da vida na Terra. Existia algo que poderia ser chamado de precursor da célula, um punhado de moléculas que possuíam a capacidade de se dividir e produzir cópias fiéis de si mesmas. Agora imaginem que essa protocélula (nome que eu dei pra esse ser precursor da vida) esteja nadando tranqüilamente quando resolve dividir. Resolve dividir? Acredito que esse indivíduo não resolveu dividir, mesmo porque não tinha motivo aparente para ele fazer isso (nem mesmo se tratava de um indivíduo). Ela não o fez para perpetuação do seu genoma, as bactérias vivem indefinidamente, não precisam se dividir como organismos que fazem reprodução sexuada. Ela simplesmente dividiu por nenhum motivo. Provavelmente a divisão ocorreu por uma necessidade daquela protocélula no sentido de se tornar mais estável, bioquimicamente falando. Percebem que não faz sentido fazer a famigerada pergunta “Qual o sentido da vida”? Ninguém disse que ela necessariamente precisa ter um sentido. Não precisa. Portanto a ciência não responde essa pergunta porque, em primeira instância, ela não tem nem porquê ser perguntada! A pergunta certa a se fazer seria: “A vida necessita de um sentido?” E a resposta seria um não bem enfático.

A segunda pergunta “Para que estamos aqui?” também é algo que não faz sentido, visto que a presença do ser humano no planeta é totalmente fortuita (ver texto anterior). Então não temos que estar aqui por algum motivo. Nossa idéia antropocêntrica de importância é que nos dá essa falsa impressão. É bem verdade que pro universo a sua presença, ou a minha, ou a de toda a humanidade não faz diferença nenhuma, mas para as pessoas ao meu redor, a minha existência faz muita diferença , e isso basta! Não precisamos de uma importância maior que essa, ser importante para as pessoas de que gostamos é completamente satisfatório. Pelo menos pra mim.

Entendo que para muitas pessoas essa idéia soe estranha e até assustadora. Tenho um amigo que dizia que se ele acreditar que não existe nenhum sentido na nossa existência, ele faria sempre o que quisesse, sem moral nem ética, poderia se matar, entre outros absurdos. Claro que ele teria que lidar com as conseqüências dos seus atos. Mas tem uma parte que eu acho que eu não entendi: Com qual raciocínio ele diz que não existir um sentido específico para nossas vidas faz com que tenhamos obrigatoriamente que nos tornar seres anárquicos e amorais?

Então, como viver bem com a idéia de que não há um sentido pra vida e que não há motivo para nós humanos estarmos aqui? É simples. Como não há um sentido específico, isso significa que temos liberdade incondicional sobre qual sentido nossa vida virá a ter. Claro que lidamos com as conseqüências dessa escolha, roubar tem uma conseqüência direta que seria punida de acordo com as leis da sociedade. No entanto, se nos dedicamos a ajudar, a organizar, a fazer o mundo ao seu redor funcionar de uma forma harmoniosa, isso trará conseqüências imediatas e de mesmo caráter! Eu sei que essas palavras que usei parecem as que são usadas em livros de auto-ajuda, e na verdade acho que são mesmo, mas a idéia não é fazer você se sentir melhor com o fato da vida não ter um sentido, é apenas de você aceitar que as coisas são assim e conseguir lidar com isso. Aceitação é o primeiro passo. Ou aceitamos que temos todo dia que trabalhar e tentamos tirar algum proveito, alguma diversão, ou reclamamos sobre isso todos os dias de nossas vidas. Se eu achar que meu sentido é compor músicas, pintar quadros, aplicar dinheiro na bolsa de valores, qualquer que seja ele, ele é válido! E se algum dia eu me cansar do sentido que eu escolhi, eu posso simplesmente escolher outro, pois cada um faz seu próprio sentido da vida. E essa é a beleza da vida, ser livre pra escolher!

Pra terminar esse texto de auto-ajuda para ateus, deixo duas frases que hoje se encontram no meu profile do orkut, que são muito coerentes porque se pensarmos em todos os espermatozóides do seu pai que tentaram fecundar o óvulo da sua mãe, de milhões e milhões, você foi o único que conseguiu vingar, dentre tantos indivíduos em potencial que morreram. Então simplesmente aproveite o que o acaso te deu.


"Nós vamos morrer, e isso nos torna afortunados. A maioria das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai nascer. As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar, mas que jamais verão a luz do dia, são mais numerosas que os grãos de areia da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos disso porque o conjunto das pessoas permitidas pelo nosso DNA excede em muito o conjunto de pessoas reais. Apesar dessas probabilidades assombrosas, somos eu e você, com toda a nossa banalidade, que aqui estamos..."¹

"Nós, uns poucos privilegiados que ganharam na loteria do nascimento, contrariando todas as probabilidades, como nos atrevemos a choramingar por causa do retorno inevitável àquele estado anterior, do qual a enorme maioria jamais nem saiu?"²

¹ – “Desvendando o arco íris”, Richard Dawkins
² – “Deus, um delírio”, Richard Dawkins

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mudança na roupagem

É, confesso. Vi um blog de um amigo meu e ele mudou todo o layout, fiquei com inveja (inveja boa, seja lá o que isso signifique) e resolvi mudar também. Eu nem sabia que podia fazer isso! Agora eu vou mudar até encontrar o ideal, que é muito dificíl. E vou mudar muitas vezes ainda o título, que ainda não é o ideal também. Também tentarei colocar figuras nos textos. Tá começando a dar trabalho isso aqui...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Um breve relato sobre a improbabilidade da vida




Uma discussão recorrente na biologia é o quão improvável é a existência da vida neste planeta. Ou em qualquer outro planeta. Dizem que é obrigatoriamente necessária a existência de uma inteligência maior pra ter criado os primeiros seres porque eles não poderiam simplesmente surgir ao acaso a partir de moléculas não-vivas. Quero discorrer um pouco sobre isso com alguns exemplos.

Bom, primeiramente, não sei se todos conhecem Oparin, o biólogo que enunciou a mais aceita teoria sobre origem da vida. Ele enunciou de uma forma convincente e científica como a vida poderia ter surgido a partir de moléculas mais simples para moléculas mais complexas. O experimento dele foi baseado a partir de deduções de como era a atmosfera primitiva da Terra, baseado em observações de atmosferas dos nossos planetas vizinhos, e em eventos que aconteciam nos primórdios da formação do nosso planeta. Havia na nossa atmosfera metano, gás hidrogênio, amônia e vapor de água. Quando esses quatro elementos são submetidos aos raios ultravioletas do sol e a raios elétricos provenientes de tempestades, surge (até mesmo no laboratório) matéria orgânica. Essas moléculas de matéria orgânica então iriam se aglutinando, formando compostos orgânicos mais complexos, se concentrando em mares de matéria orgânica – chamado de caldo primordial – até que um dia surgiria a vida. Muita gente acha isso improvável demais pra acontecer, e à primeira vista é mesmo. Mas se analisado a fundo dado um tempo muito grande para que esse evento ocorra, ele se torna até muito viável, como uma conseqüência natural das leis da física e da química.

A estatística é uma boa ferramenta pra dizer o que é provável e o que não é provável de acontecer. Ela pode ainda dizer se as chances de acontecer um evento são tão remotas que beiram o impossível, mas acho que a gente se esquece do que a gente realmente observa no mundo real e acaba achando que a estatística é uma verdade absoluta. É como achar que se algo não pode ser encontrado no google quer dizer que tal coisa não existe.

Um exemplo é a formação de um átomo de carbono. Teoricamente, um único átomo de carbono é algo tão inviável de acontecer que se os físicos nunca vissem um, iriam achar absolutamente normal. No entanto o carbono é a base de toda a vida do planeta, todos os seres vivos possuem muitos mols desse átomo. Não é porque algo é improvável de acontecer que esse algo não aconteça. O carbono só é produzido no interior de estrelas, em cometas e em atmosferas de planetas porque provavelmente nesses lugares, algo propicie a sua formação. A estatística não dita regras, só mostra a viabilidade de eventos ocorrerem.

Eu jogo na mega-sena de vez em quando. Sei o quão improvável é a chance de eu ganhar, mas é mais pela diversão do que pela expectativa de acertar os números, pelo menos no meu caso. A chance de se acertar as 6 dezenas do jogo é de 1 em 50.063.860. Teoricamente, se eu jogasse 50 milhões de vezes na mega sena com os mesmo números um dia eu iria ganhar, estatisticamente falando. Mas há ainda um outro aspecto nessa informação. Hoje os sorteios da mega-sena ocorrem duas vezes por semana, de quarta e de sábado. Algumas vezes o prêmio acumula, mas raramente acumula muito. Não acho absurdo pensar que, por mês, uma pessoa venha a ganhar na mega-sena. Se pensarmos que existem 8 sorteios no mês e uma pessoa ganha a cada mês, logo a cada 8 sorteios, uma pessoa ganha. Uma estatística surpreendente, 1/8 de chance de alguém ganhar! Mas então isso quer dizer que em um mês, jogando toda vez com os mesmos números eu vou ganhar com certeza? Na verdade não. A sua estatística de ganhar continua de 1 em 50 milhões (infelizmente). Mas então por que esse 1/8? Simplesmente porque existem muitas milhões de pessoas no Brasil que jogam, sendo que uma delas pode ganhar, mas não necessariamente vai ser você. A chance de alguém ganhar é incrivelmente maior, 1/8 nesse exemplo, do que uma pessoa em específico, que seria da ordem de 1 em 50 milhões.

Pois bem, no caldo primordial existiam milhares, milhões, mols e mols de moléculas orgânicas pululantes naquele imenso mar inerte e sem vida. Essas moléculas obviamente não procuravam se aglutinar para formar algo vivo. Elas se aglutinavam naturalmente, assim como quando você joga óleo de cozinha numa panela com água quando vai cozinhar, pois dado um tempo, pequeno até, as moléculas de óleo tendem a se juntar sem que nada as induza a isso. Essa aglutinação é natural, e ocorre muito entre proteínas. Como no caso do exemplo da mega-sena, a chance de uma única molécula específica, conseguir se juntar de um jeito específico com outras, a fim de formar vida, é irrisória. No entanto, existiam muitos milhões de bilhões de moléculas que poderiam estar “tentando” realizar tal feito. Nós vimos que as chances de alguém ganhar na mega-sena são bem maiores do que uma pessoa em específico ganhar (1:8 contra 1:50 milhões), portanto as chances de surgimento da vida também seria incrivelmente maior, dado o grande número de moléculas interagindo. Aliado a isso um tempinho de alguns 2 bilhões de anos, acho bem plausível a origem de vida a partir de algo não vivo. E o mais importante, isso só precisaria ter acontecido uma única vez.

Claro que vem aquela pergunta: Mas então vida poderia estar sendo formada a partir de matéria inanimada nesse exato instante em algum lugar do nosso planeta? Bom, acabei de mostrar todo o empecilho pra surgir vida. Não é algo muito fácil, mas também não é algo impossível (mesmo porque ela existe). Precisaria existir um ambiente muito favorável pra que isso acontecesse e algum tempo também. Não acho que exista tal ambiente favorável hoje em dia. Provavelmente essa nova forma de vida que viesse a surgir teria ainda que competir por recursos com as formas de vida já existentes no planeta há 2,5 bilhões de anos. Acho que ela perderia essa competição. No entanto, independentemente de pensar se esse novo tipo de vida vingaria ou não, não acho impossível que uma nova forma de vida surja nos dias atuais (e logo desapareça por competição com outras), é apenas muito improvável.

Agora vou puxar a sardinha para nosso lado, como seres humanos típicos. Imaginemos nosso mundo hoje, sem nós humanos. Imagine que existam todos os animais atuais, com os mamíferos dominando o ambiente terrestre. Agora coloque no cenário os dinossauros. Depois de um tempo, qual grupo seria dominante no planeta? Quem assistiu Jurassic Park, que apesar de ficção tem uma parte científica bem embasada, percebe que os mamíferos seriam massacrados! Na época que esses grandes répteis dominavam o mundo, alguns mamíferos de pequeno porte co-existiam no ambiente, no entanto não existiam grandes mamíferos predadores porque estes teriam que competir com os dinossauros por um mesmo nicho ecológico*. Por muitos milhões de anos os mamíferos foram dominados pelos dinossauros. Não fosse pelo meteoro que caiu no México há 65 milhões de anos, essa história dificilmente teria mudado.

Qual a importância disso para nós? Simples. Se aquele meteoro não tivesse caído na Terra, os seres humanos, assim como primatas, felinos, elefantes, camelos e alces provavelmente nunca teriam existido! A probabilidade de um meteoro com aquelas dimensões cair no nosso planeta é cerca de 1 chance em 100 milhões de anos. Ora, não é uma chance grande, mas também não é tão pequena, visto que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos e a vida cerca de 2,5 bilhões. Cabem muitos meteoros daquele tamanho nesse período de tempo. O fato é que se não fosse o acaso daquele meteoro cair, não existiria vida inteligente no planeta (pelo menos não como conhecemos).

Isso tudo que foi dito traz algumas implicações. Era improvável ter aparecido vida inteligente na Terra, mas surgiu. O que impede que em outros lugares também possa existir? É estatisticamente inviável? Já vimos que estatística só nos diz se algo é improvável ou não de acontecer, mas não diz que algo é impossível. A vida é uma conseqüência natural das leis da física e da química, mas o caminho pelo qual a vida vai evoluir não é linear, e a existência do ser humano no planeta, no fim das contas, é pura sorte.



*nicho ecológico: Representa o conjunto de atividades que a espécie desempenha, incluindo relações alimentares, obtenção de abrigos e locais de reprodução, ou seja, como, onde e à custa de quem a espécie se alimenta, para quem serve de alimento, quando, como e onde busca abrigo, como e onde se reproduz. Numa comparação clássica, o habitat representa o "endereço" da espécie, e o nicho ecológico equivale à "profissão". (wikipedia)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Mulher é arte

Eu sei, eu sei, parece exagero, mas os homens vão entender do que eu estou falando. Como dizia Leoni na música garotos "Então são mãos e braços/ Beijos e abraços/ Pele, barriga e seus laços" em que exalta todos os pequenos detalhes da mulher. Ele conseguiu expressar de forma muito eficiente como nós homens (não todos, claro) enxergamos essa obra de arte.

E não estou aqui só falando de bunda, seios e derivados. A parte sexual, o corpo, é um caso a parte, não é disso que eu estou falando. Eu me refiro à curva do pescoço que se expõe quando ela prende o cabelo, ou das costas expostas num vestido com decote atrás, ou quando ela aparece de cabelo molhado, as mãos, os olhos, o sorriso. É como admirar um Monet, onde você vê as pinceladas, as cores, os detalhes, ou quando você presta atenção num solo de guitarra numa música ou nos muitos instrumentos que a compõe. Pequenos detalhes.

Apreciar a mulher como arte não é de hoje, os antigos já procuravam nelas proporções áureas, o número de ouro, para tentar explicar a origem da beleza, para tentar padronizar o subjetivo. A meu ver eles falham miseravelmente. A Mona Lisa, por exemplo, é toda feita baseado em proporções áureas, no entanto é aquele bucho que todos conhecem. Porque a beleza não está, muitas vezes, no conjunto, e sim em um detalhe pequeno que destoa do conjunto, ou o conjunto harmonioso que esconde alguma imperfeição. Por exemplo, a Jennifer Aniston é linda, mas o nariz dela é feio. A Nicole Kidman é linda, mas o nariz dela é algo sem comparação! Tanto que quando o mudaram no filme "As horas", ela ficou bem estranha. A Catherine Zeta Jones tem o rosto mais harmonioso que eu conheço, mas ela é tão bonita que enjoa. Não existem imperfeições nela. E o que realmente diferencia uma arte da outra são as pequenas diferenças, as peculiaridades.

Um exemplo do que digo são as covinhas nas bochechas. Elas aparecem devido a um músculo lateral que fecha a mandíbula, que é duplo ou bífido nos portadores dessa característica. Em muitas culturas elas são vistas como um atrativo e acredita-se que é porque geralmente bebês têm covinhas (que podem sumir tardiamente na vida), dando a idéia de que mulheres que as possuem, transmitem uma imagem de juventude. Seja o que for, mulheres que possuem covinhas chamam atenção quando sorriem. Essa característica é devido a uma diferença morfológica, uma característica genética que não padroniza as mulheres, pelo contrário, as diferencia, as afasta do padrão. Se todas tivessem covinhas, as poucas que não tivessem chamariam atenção, não pelo padrão, mas pelas diferenças.

Muitos que lerem esse texto vão dizer: "Meu, olha o detalhe que esse retardado tá reparando! No nariz das mulheres!", mas isso é arte! É reparar no ínfimo, na nota de rodapé. Tudo é observável e passível de admiração. E todas as mulheres têm algo para se admirar, é só olhar atentamente, todas têm algo que as tornam únicas. Por mais que os quadros do impressionismo sejam muito parecidos, nenhum é igual ao outro, assim como as mulheres.

Sou bem fã da música do Leoni, mostra essa idéia de "mulher é arte", de admiração. Assim como a música “Eu gosto de mulher” do Ultraje a Rigor, um pouco menos poética, mas tão verdadeira quanto. E a grande vantagem de se admirar essa arte é que ela permite uma certa interatividade, não é mesmo?


(Obs: Essa observação é para os cientistas. Eu sei que existe um padrão de beleza provado cientificamente. Todo o meu texto é achismo, mas um achismo fundamentado. Não deveria escrever isso aqui porque enfraquece o meu argumento, mas minha reputação de biólogo vale mais do que meu poder de argumentação. Mesmo assim, por mais que exista realmente um padrão de beleza, ele ainda pode ser subjetivo, visto que o padrão é generalizado.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O poder da saia

O verão possui muitos atrativos! Dias mais longos, sol até as 7 horas da noite, calor, praia, mais disposição. Claro que há aqueles que prefiram um friozinho debaixo do cobertor, comida, chocolate quente com pipoca. Mas algo que há de ser consenso geral é a importância da saia no verão.

Mulheres não têm muita noção do poder que uma saia possui. E não estou aqui falando daquelas minissaias que de tão curtas parecem mais cintos. Falo de saias em geral, curtas ou compridas. As de renda, as compridas de forró, as saias jeans, as de tricô... Elas incitam a imaginação dos homens e são muitas vezes mais sexy do que um biquíni, que não escondem nada. O interessante é o mistério.

A história da saia é antiga, desde 3000 a.C., mas para meus propósitos, a época dos nossos avós em que as mulheres andavam todas cobertas já me serve. Imagina que disparate sair de casa, em meados de 1900, com o tornozelo aparecendo? “Que audácia!”, diriam. Muitas mulheres que mostravam os antebraços, um pedacinho que fosse, já eram consideradas modernas demais, e acabavam passeando pelos pensamentos juvenis da vizinhança masculina. Lá pela década de 50, quando as mulheres começaram a entrar para o mercado de trabalho, as coisas mudaram. Elas agora queriam se libertar, então surgiram os movimentos feministas, e as saias começaram a diminuir. Aos poucos apareciam a mão, os braços, os pés, as canelas... até chegar na mini-saia na década de 60. Agora sim o mundo havia se encontrado! As pernas de fora, pra cima do joelho! Então na década de 70 vieram mais duas vertentes: o psicodelismo com saias de cortes estranhos e bastante coloridas, e o movimento hippie, com saias longas. Daí em diante, qualquer coisa podia.

Tanto podia que as mulheres começaram a ficar mais ousadas (ou sem pudor) e começaram a usar roupas cada vez menores. Aparecia tudo ao mesmo tempo ou, na verdade, não se escondia muita coisa. Mini-saia e tomara-que-caia rosa, com a barriga de fora. E virou moda, todo mundo usou. Depois, quando viram que estava ficando muito vulgar, resolveram esconder tudo de novo, colocando calça jeans por debaixo da saia. E virou moda.

Eu sou assim meio atrasadão, conservador, reacionário. Gosto da época em que o mistério ainda pairava no ar, que a saia mostrava o necessário e escondia o principal. Gosto da inocência, do decote contido, mas ainda sim provocante. O frio tem seus encantos também, as roupas são realmente mais bonitas. Casacos grossos, cachecol, luvas e gorros, todo aquele clima meio europeu. Mas bonito mesmo é ver aquela garota de saia, passeando na calçada, em uma tarde de verão, num doce balanço a caminho do mar...

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tecnologia cega

Fui ao shopping com umas amigas e entrei numa loja de móveis e acessórios para o lar. Vi alguns objetos que as pessoas produzem para momentos muito específicos e que poderíamos viver sem. Um exemplo do que vos digo é um apoio pra prato com almofada, você coloca a almofada no colo pra comer enquanto assiste à televisão, ela tem uma parte de madeira para o prato não cair e uma parte de almofada para dar altura para que você possa comer sem ter que se abaixar muito. Essa parte de madeira também impede que você suje a almofada caso derrube comida do prato. Genial! Mas poderíamos viver sem, afinal de contas, vivemos sem.

Esse exemplo banal da almofada foi somente para abrir a discussão. O ponto em que quero chegar é que estamos produzindo tecnologia de que não precisamos. Existe até uma piada que diz que o computador foi inventado para resolver problemas que não existiam antes da invenção do próprio computador. Vou dar exemplos de onde quero chegar.

Quando voltei de viagem, comprei um celular com câmera de 1,3 mega pixels, com memória expansível para guardar minhas fotos. Ele toca mp3, tem jogos, me permite acessar a internet de qualquer lugar que tenha sinal, acessa meus contatos por comando de voz e pasmem, ele faz até ligações telefônicas! No começo eu achei super legal, ouvia música o tempo todo, tirava fotos, jogava os incríveis jogos de corrida e de carteado que ele tem, mas a bateria sempre acabava muito rápido por causa disso e eu ficava sem comunicação, já que ele serve também para fazer ligações telefônicas. Resultado, comprei um mp3 player para minha músicas, tiro foto na minha câmera digital, jogo no meu computador (jogos melhores), e uso o celular exclusivamente para fazer ligações, porque na realidade é o propósito dele!

Um amigo meu tem um computador top de linha. Entre outras configurações que prefiro nem falar pra não deixar o texto extenso, ele comporta uns 500 Gb de informação no HD. Esse amigo diz que já está quase sem espaço, 500 Gb é pouco para o que ele usa. Engraçado, quando os HDs eram de 10 Gb eram pouco também. Eles não poderiam guardar os filmes e músicas em cds e dvds? Precisamos guardar os 50 filmes que baixamos da internet no HD do nosso computador? Temos mesmo que comprar o computador top de linha que sai de 3 em 3 meses? Tem gente que diz que sim, que essa é a tendência da tecnologia.

Enquanto essa questão fica sendo discutida, mais e mais recursos são gastos em tecnologias de que simplesmente não precisamos! Daqui a 3 meses meu computador vai se tornar obsoleto, vou comprar outro e jogar o meu fora. Ele vai ser reciclado? Vira poeira cósmica? Muitas vezes ele simplesmente vira lixo. No Japão, e em outros países de economia forte e alta tecnologia, é proibido pegar objetos nos lixões da cidade mesmo eles sendo praticamente novos. Produzimos milhares de toneladas de lixo e gastamos outros milhares de toneladas de recursos para fazer novos aparelhos. Só eu vejo um problema sério nisso?

Sei, no entanto, que isso é uma necessidade do capitalismo, sempre ter alguém pra comprar novos produtos senão a economia pára. Então não é só reciclagem e preservação do meio ambiente de que precisamos para garantir nosso futuro, precisamos de alternativas à produção de tecnologias de que não precisamos, sem que isso acarrete em uma estagnação econômica. Confesso que não tenho muita bagagem de teoria econômica pra argumentar a favor de uma nova medida que possa substituir o capitalismo, mas creio ser um importante fator que deveria ser levado em conta. Ou resolvemos o problema de onde vamos colocar todo esse lixo tecnológico e onde vamos encontrar novos recursos, ou precisamos pensar em alternativas para que consigamos manter o planeta funcionando para as futuras gerações. Gastar recursos em supérfluos os quais trocamos a cada ano pode parecer pouco hoje, mas pode se tornar um grande problema num futuro próximo.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Coisas de homens – parte 2

“Videogame é coisa pra moleque”. É o que eu mais ouço de garotas irritadíssimas por serem trocadas, na tarde do domingão chuvoso, por um bando de marmanjos ligados a joysticks, fazendo campeonato de Winning Eleven. Protesto pelo meu direito de defesa. Não que eu queira que as garotas passem a gostar de jogos eletrônicos, quero só que elas entendam por que gostamos e que respeitem isso.

Jogos eletrônicos são vistos como a 10ª arte por muitos estudiosos. A 9ª arte, por exemplo, são revistas em quadrinhos. Eu não leio, não consumo, não gosto. Mas sei reconhecer que podem ser tratados como arte, visto que já vi para vender mangás de 300 páginas, com desenhos incríveis, cores belíssimas e acabamento de primeira. Arte.

Acho que antes poderíamos tentar definir o que é arte, o que não é uma tarefa fácil, mesmo porque não existe um conceito exato pra isso. Vou ficar com um conceito de um cara que eu não lembro o nome (nunca guardo minhas fontes) que dizia: “Arte é a materialização das emoções”, é quando você cria algo e quer que esse algo que você criou desperte algum sentimento na pessoa que irá apreciar aquela arte. Acho essa definição muito melhor do que a de outros autores como: “Arte é tudo aquilo que você quer que seja” ou “Arte é tudo aquilo que não tem utilidade prática”. A idéia de que arte é a materialização das emoções funciona muito bem pra música, cinema, pintura, literatura, fotografia, teatro, você sente, vive aquele momento. Na minha modesta e humilde opinião, creio que Arte é algo que te leva a algum lugar diferente do que você se encontra, pelo menos por um período pequeno de tempo, tira você da sua realidade, te fazendo sentir diferentes emoções.

Existem músicas que te fazem se imaginar na praia, ou dirigindo em alta velocidade. Existem quadros, fotografias, que te levam para outro lugar, faz você viver diferentes experiências. Livros que te levam a outros países, outras culturas; filmes que te fazem viver um agente secreto do governo americano ou um jantar romântico em Paris. A arte, em suma, é a fuga da realidade. (Claro que nem tudo que te faz fugir da realidade é arte - para os maconheiros de plantão - o inverso não se mostra verdadeiro)

Pois bem, quer algo mais artístico do que algo que te leva a viver na era medieval? Ou roubar um banco? Ou um piloto de avião, agente secreto, técnico de futebol? O videogame é como um filme, você vive a vida de outra pessoa. É uma fuga da realidade, com a diferença de que nos jogos você pode tomar uma posição ativa na história, e não só passiva como nos filmes. Quem já jogou Resident Evil, Legend of Zelda, Counter Strike, sabe do que eu estou falando. Medo, sustos, corações acelerados, felicidade por uma conquista, todas as emoções em um só jogo. Tanto que a indústria dos jogos, atualmente, é maior do que a do cinema. Dizem que ela está chegando perto da indústria da música e que daqui a alguns anos ela arrecadará mais dinheiro que as duas juntas! Existem jogos que a trilha sonora é feita por orquestras famosas, como a filarmônica de Nova York, em que os enredos são feitos por roteiristas profissionais, imagens que beiram o realismo, liberdade de movimentos. Milhões são gastos para proporcionar aos jogadores o máximo de envolvimento e interatividade. O videogame deixou de ser coisa de moleque há muitos anos.

Não estou aqui tentando desmerecer as outras artes, estou apenas tentando incluir os jogos eletrônicos na categoria de arte (Na verdade só estou tentando justificar algo que já é considerado arte). Tenho muitas amigas que dizem que não, que é exagero da minha parte. Acho que se elas se esforçassem para entender ao invés de ficar reclamando dos namorados que as trocam pelos malditos joysticks, podiam aprender como jogar, jogar junto com eles. Talvez poderiam tirar algum proveito, ter alguns momentos de diversão. Ou também podem nos deixar jogando e ir curtir um livro, ou ver um filme. Cada um com sua arte.

Coisas de Homens – Parte 1

Futebol e jogos eletrônicos, duas coisas que a maioria das mulheres não conseguem gostar. Tudo bem, todos têm direito de gostar de coisas diferentes. Acho que isso, inclusive, está no cerne da diferença entre homens e mulheres, gostar de coisas diferentes. Mulheres gostam de bolsas e sapatos. Nós homens não entendemos muito bem o porquê, não ligamos muito para o que vai nos nossos pés e se ligamos, nos contentamos em ter dois pares apenas. Não entendemos qual o fascínio em ter um utensílio para guardar um monte de tranqueira que provavelmente poderíamos passar sem e que só serve para mostrar para as amigas, visto que os homens não ligam muito. Enfim, não é sobre isso que eu quero discutir, quero defender racionalmente nosso direito, como homens, de gostar de futebol e jogos eletrônicos e mais, defender a idéia de que jogos eletrônicos são sim a 10ª arte.

Outro dia eu estava conversando com um amigo meu sobre genialidade. Eu acredito que existam gênios, pessoas que nascem com uma predisposição maior para aprender, para realizar, do que outras pessoas, no que meu amigo rebateu dizendo que viu uma entrevista de uma mulher que dizia que não existiam gênios, as pessoas eram apenas mais ou menos inteligentes ou aptas a certas coisas por influência social. É intuitivo, no entanto, afastar esse pensamento maluco da mulher em questão, apesar de não ter visto os argumentos apresentados por ela, se pensarmos na variabilidade genética dentre os 6 bilhões de habitantes existentes no nosso mundo. Alguns nascem com uma predisposição natural para certas coisas, não há como negar isso. Os milhares de alunos que prestam medicina todo ano, estudam com o mesmo afinco que todos os candidatos que concorrem com eles. Por que alguns se saem melhor? Por que existem aqueles que acertam 88 de 89 questões, será que essa pessoa realmente estudou mais que todo mundo? Acho difícil. Certamente esse sujeito consegue guardar informações mais facilmente, ou guardar mais informações do que outros.

Claro que a genética não é tudo. Se esses indivíduos não forem incentivados pela sociedade podem não desenvolver a habilidade, seja ela qual for, mas eles possuem intrinsecamente a capacidade para tal. Mas e o futebol com isso? Imagine então quantos garotos treinam futebol desde pequenos para se tornarem jogadores profissionais no futuro. Imaginou? É um número grande. Agora imagine apenas o CT (centro de treinamento) onde Robinho e Diego, jogadores que surgiram no CT do Santos, treinavam. Não posso garantir quantos outros disputavam uma vaga, mas garanto que não eram poucos. Vamos chutar um número de 50. Por que só os dois é que foram jogar na Europa? Por que os 50 colegas deles que treinavam com o mesmo afinco e dedicação não conseguiram? Porque Robinho e Diego estavam acima da média, eram melhores. E veja, claro que tem a ver com musculatura também, mas o Robinho é bem mirradinho, se fosse apenas por este quesito, ele não seria tão bom quanto ele é hoje. Até tentaram aumentar a massa corpórea do jogador, mas o organismo dele não respondeu.

Ainda não cheguei ao ponto, mas estamos quase lá. Assim como Kaká, Zidane, Cristiano Ronaldo, Messi, jogadores de diferentes nacionalidade mas que jogam muito bem, eles foram os melhores dentre os jogadores do CT dos países onde atuaram, entraram em bons times, ganharam fama internacional e foram parar em times europeus. Ver uma partida européia, não é apenas assistir um bando de marmanjos correndo atrás da bola. É ver os melhores do mundo, em um determinado quesito, atuando. No caso futebol. É o mesmo que ver Monet pintando um quadro, ou ouvir Mozart tocando uma sinfonia. E não é exagero!

Queria ter podido ver Pelé jogando. Não sei se vocês sabem, mas Pelé, em algumas jogadas, tinha um tempo de reação de 0,4 segundos. O tempo de reação de uma pessoa normal (isso a gente aprende em aulas do CFC) é de 0,7s. Pelé pensava, em algumas jogadas, quase duas vezes mais rápido que o adversário! É por isso que ele era chamado de gênio, porque estava acima da média dos jogadores de seu tempo.

Portanto se você não gosta de futebol, é um direito seu, assim como eu também não gosto dos quadros de Picasso, acho horroroso. Mas sei que ele foi um grande pintor, que revolucionou a época dele, que quebrou os paradigmas dos impressionistas que pintavam fora do estúdio para fazer pinturas internas sobre diferentes ângulos de visão. Respeito sua importância na história da pintura, assim como respeito quem não gosta de futebol. Mas gostaria, como homem admirador de arte e de gênios atuando, de ser respeitado por gostar de futebol. E da próxima vez que ouvirem falar de futebol-arte, saberão que o termo é literal.